Benildes Rodrigues: Lula, não vivemos o que você viveu, mas sentimos o que você sentiu

Em artigo, jornalista da Liderança do PT na Câmara relata sua experiência na Vigília Lula Livre, local que entrou para história do país como exemplo de resistência e luta

Ricardo Stuckert

Vigília Lula Livre

Era uma noite gelada o dia 9 de junho de 2019, em mais uma das minhas idas e vindas a Curitiba quando comecei a rabiscar este texto. Lembro-me bem do momento solitário em que olhei pela janela, vi as luzes que iluminavam o Bairro de Santa Cândida em Curitiba…

Elas não refletiam na Sede da Polícia Federal, local em que o maior presidente da República que este País já teve se encontrava encarcerado desde o dia 7 de abril de 2018. O local é muito escuro, mas as três janelas no último piso que dão acesso à cela do ex-presidente estavam iluminadas. Eu estava hospedada a uns 200 metros da sede da PF e do canteiro que abrigava a Vigília Lula Livre.

Perdida em meus pensamentos, ouvi o sino da igreja badalar uma canção triste. Vi a correria dos trabalhadores para pegar o ônibus no terminal rodoviário de Santa Cândida. O vento uivante jogou a chuva que começava a cair em meu rosto. Aqueles pingos se confundiram com as lágrimas que começaram a rolar pela minha face quando o meu olhar fixou novamente na Sede da Polícia Federal, onde Lula estava preso. Injustamente preso. As perguntas, volta e meia, rondavam nossa cabeça: Como será que ele está? Em que está pensando? O que está fazendo? Está com frio?

Pensei na dor da solidão e injustiça que o invade. Sei que não se pode comparar, mas a dor que o invadiu nesses meses a fio foi a mesma que senti naquele momento…Longe da família, amigos, amor… sozinha!!! Não vivemos o que ele viveu, mas sentimos o que ele sentiu.

O frio de congelar os ossos me fez abrir um vinho. Sorvendo o líquido lentamente, lembrei-me do dia 8 de abril de 2018. Nesse dia – um dia depois de o ex-presidente se apresentar à sede da PF em Curitiba – eu e o meu amigo, Max D’Oliveira, comunicador da Liderança do Partido dos Trabalhadores no Senado, chegamos às primeiras horas na capital paranaense para dar suporte ao acampamento que seria montado por tempo indeterminado.

Caravanas que chegavam das cidades vizinhas a Curitiba começaram a ocupar as ruas próximas à PF. Naquele momento deixamos de lado o cansaço, a dor e o sofrimento da noite anterior – dia em que ele se entregou ao sistema de justiça brasileiro – para auxiliar o PT, CUT, MST, MAB, entidades que estavam à frente da montagem da infraestrutura do acampamento.
Dar voz a esse movimento era nosso papel. Precisávamos denunciar ao mundo a injustiça da justiça brasileira.

Precisávamos difundir a narrativa que ganharia o Brasil e o mundo: Lula é inocente e por isso Lula precisaria ser livre. Nós, da Liderança do PT na Câmara, trabalhamos incessantemente em parceria com a Agência PT, Instituto Lula, Jornalistas Livres, Mídia Ninja, Telesur, Brasil de Fato, Rede Brasil Atual, Liderança do PT no Senado, Liderança do PT do Paraná e muitas outras mídias progressistas que ali estavam. Textos, vídeos, lives, cards… Não parávamos! Lula livre se tornou uma bandeira empunhada por vários povos, de vários países.

Casa da Democracia

Praça Olga Benário

A rua João Gbur esquina com a rua Mariano Gardolinski passou a ser chamada de Praça Olga Benário. Por ali passaram intelectuais, artistas, políticos de diversos partidos de esquerda, em especial os parlamentares da Bancada do PT na Câmara, e do PT no Senado, músicos, ex-chefes de Estado, escritores, religiosos, estudantes, sindicalistas, trabalhadores rurais, entre outros. Em nossos escritos, vídeos e lives, mostramos alegria, amor, lamento e dor – mistura de sentimentos presentes nos discursos emocionados, nas poesias e versos declamados, recitados, nas peças de teatro representadas, nas cordas da viola…
Mulheres, homens, jovens, crianças que participavam das atividades da vigília buscavam, a partir do grito de ‘bom dia’, ‘boa tarde’ e ‘boa noite’ dizer ao presidente: Não se preocupe. Nós estamos aqui. Você jamais estará sozinho! Pode parecer piegas, mas não existe sentimento maior, capaz de dar força e fazer com que a resistência persista, que o sentimento de amor. Essa foi a marca dos 580 dias de aprisionamento do presidente Lula.

Vigília

O cheiro de povo incomodou a elite reacionária de Curitiba. O amor que eclodiu de centenas de vozes que saudaram com ‘bom dia’, ‘boa tarde’, ‘boa noite’ presidente Lula incomodou aqueles que viram na prisão do ex-presidente, o caminho para chegarem ao poder.
A intransigência dos moradores levou o deslocamento dos militantes e apoiadores do presidente Lula para a rua Sandália Manzon, local onde foi montada a Vigília Lula Livre. Por decisão da justiça de Curitiba, a Vigília foi reduzida a um cercado. A tentativa de aprisionamento da militância, via cercadinho, não deu resultado.

A pujança do espaço pode ser conferida no livro de registro que traz milhares de assinaturas daqueles que encontraram na vigília a forma de “visitar” o presidente Lula. Mas os arames impostos pela justiça não foram suficientes para barrar as caravanas, símbolo da resistência, que chegavam de todos os rincões do País. Tentaram, mas não conseguiram aprisionar a luta.

Com a Vigília Lula Livre, Curitiba testemunhou o real significado da palavra lealdade, gratidão, resistência e amor!
Passamos um ano e sete meses escrevendo Lula livre. Essa história sofrida nos apresentou pessoas das quais jamais vamos esquecer. Essa luta incessante pela liberdade do presidente Lula, tem nome, cor, cheiro, jeito e trejeito.
Como esquecer o jeito firme e decidido de Cilene Antoniolli? Ela foi delegada pela direção Nacional do PT para coordenar a Vigília.

Como bem disse um amigo: Cilene é dirigente nata. Ela dá ordem com firmeza ao mesmo tempo em que acolhe com carinho. Dividindo a mesma tarefa, a incansável Regina Cruz, da CUT-PR, Rosane da Silva, da CUT Nacional, Neudicleia Oliveira, do MAB, Roberto Baggio, do MST, e Haide de Jesus do PT. Com seu jeito e trejeito, a querida Eliane Bueno, sempre com discurso carregado de emoção e eloquência, puxava o “boa tarde, presidente Lula”.

Ao seu lado, a nossa cantora de voz marcante, Isa Godoy, que dividiu sua vida entre Curitiba e Belo Horizonte. Não dá para esquecer Denise Veiga, a jornalista responsável em manter viva a comunicação da Vigília, Suzi Montserrat e João Belo que emprestaram suas vozes para alegrar as manhãs, tardes e noites. Então, não tem como não lembrar dessas pessoas tão necessárias e queridas.

É muito difícil não chorar ao escrever esse pequeno resumo de uma história tão profunda e tão dolorosa e que para sempre marcará nossas vidas e maculará a história do País, especialmente de parte do judiciário e da mídia que perseguiram e condenaram Lula sem provas, sem crimes.

E no meio dessa dor e sofrimento, conhecemos e convivemos com Silvestre, Baiano, Batista, Zi, Izabel, Daniel, Marciele, Elias, Gilmar, Paulo, Tarcísio, Vicente, Jucimara, entre tantos que conheci e muitos anônimos que estiveram presentes nessa luta árdua na gélida Curitiba.

Parceiros que nominamos de “Os homens do Presidente”, Elias, Misael, Carlão, Azevedo, Moraes, Ricardo, Moura e Rodrigues despertaram respeito e admiração dos vigilianos pela dedicação exclusiva ao presidente Lula. Assim como as araucárias de copas imponentes, cujo tronco carregava o peso da placa que anunciava os dias de injustiça, o trabalho desses meninos, simbolizava a parceria silenciosa pelo mesmo objetivo: Lula livre.

Equipe

Nós não acreditávamos que tínhamos registrado um momento ímpar – que fora o encontro de Lula com seu povo na Caravana Lula pelo Brasil – e, agora, estávamos ali, lutando para mostrar ao mundo a arbitrariedade que estava sendo cometida com o maior presidente que o Brasil testemunhou.

Cansados, nos apoiávamos uns aos outros. Nos abraços encontrávamos alento para suportar as nossas próprias dores. Nossos agradecimentos pela parceria a esses comunicadores que se doaram e se dedicaram: Cláudia Motta, Murilo Mathias, Igor Veloso, André Vieira, Ana Flávia Gussen, Joka Madruga, Cliceia Alves, Ana Paula Schreider, Clarice Cardoso, Felipe Kfouri, Mauro Calove, Ricardo Stuckert, Cláudio Kbene, Edson Rimonatto, Eduardo Matysiak, Murilo Salazar, Nicole Briones, Gabriela Gualberto, Pedro Carrano, Gibran Mendes e Leonardo Fernandes e Otávio Antunes. Gratidão é a palavra!

Escolha

A luta de cada um de nós trouxe esperança, alegria e fez nosso povo voltar a sorrir. O Lula do Brasil está de volta. O ‘bom dia’, ‘boa tarde’ e ‘boa noite’ serão substituídos por: obrigado, presidente Lula!
Lula livre jamais foi uma palavra de ordem, uma missão ou tarefa. Lula é escolha! Nossas mãos da gratidão e do amor se uniram e encerramos esse capítulo nefasto da história mais fortes, com mais esperança por justiça, liberdade e democracia.

Benildes Rodrigues é jornalista em Brasília.

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