Bolsonaro e Pazuello queriam “forrar” o Brasil com cloroquina

Missão de “acompanhar os grandes contratos” foi designada pelo então ministro interino da Saúde Eduardo Pazuello ao empresário Carlos Wizard, aponta vídeo divulgado pela IstoÉ

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A mando de Bolsonaro, gabinete paralelo investiu na cloroquina

Nesta segunda-feira (21), dia em que o advogado do empresário Carlos “Wizard” Martins procurou o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado, Omar Aziz (PSD-AM), e agendou o depoimento dele para 30 de junho, a revista IstoÉ postou em suas redes sociais um vídeo incriminador. Nele, Wizard aparece dizendo que o Brasil seria “forrado” com medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina.

No vídeo, a gravação de uma live com um repórter da revista realizada em maio de 2020, o bilionário também fala que havia recebido a “missão” do então ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, presente no encontro. O “mago” da cloroquina (wizard, em inglês) deveria acompanhar “os grandes fornecedores, os grandes contratos”, respaldado em sua “habilidade negocial”.

“Você sabe que o orçamento do Ministério da Saúde é um dos maiores que nós temos na nação, o maior da União, cerca de R$ 150 bilhões”, declarou o empresário, que não exercia qualquer cargo oficial na pasta.

“Logo, logo, você vai ver aí que o Brasil vai ser forrado de medicamentos na fase ainda inicial do tratamento, cloroquina, a hidroxicloroquina. Ou seja, então, alguns fornecedores são nacionais, mas tem muita coisa que não é fabricada no Brasil e que nós dependemos de fornecedores estrangeiros”, prosseguiu.

O curitibano Carlos Roberto Martins tem 64 anos e, após aprender o inglês com missionários mórmons norte-americanos, fundou em 1987 a franquia de escolas Wizard, da qual adotou o nome. Maior rede de ensino de idiomas do Brasil, ela foi vendida em 2013 para a britânica Pearson por R$ 2 bilhões, o maior negócio do setor de educação já realizado no país. Surgia então um novo bilionário brasileiro.

Criador da holding Sforza, dona de marcas como Mundo Verde, Wise Up, KFC e Pizza Hut no Brasil, o empresário é apontado pelo grupo majoritário na CPI, formado por senadores independentes e de oposição, como um dos líderes do chamado “gabinete paralelo”. A convocação para depor à CPI foi aprovada em maio, e ele deveria ter prestado depoimento na última quinta-feira (17), mas não compareceu.

Wizard está nos Estados Unidos desde 30 de março. Pediu, sem sucesso, para depor por meio de videochamada. Com a ausência, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a condução coercitiva e apreensão do passaporte. Na última quinta-feira (17), a Polícia Federal tentou cumprir o mandato na casa do empresário em Campinas, no interior de São Paulo, mas ele não foi encontrado. Aziz chegou a cogitar, no domingo (20), uma operação com apoio da Interpol.

Originalmente convocado como testemunha, Wizard agora é oficialmente investigado, junto com outras 13 pessoas. O bilionário teve sigilos telefônico e bancário quebrados pela CPI, mas seus advogados tentam pela segunda vez reverter a medida no STF. O primeiro pedido foi negado pela ministra Rosa Weber.

Empresário foi peça-chave nas negociações para compra de cloroquina e derivados

Em 2018, Wizard e a esposa, Vania, encamparam o projeto Brasil do Bem, para ajudar mais de 12 mil refugiados venezuelanos a cruzarem a fronteira com o Brasil. Foi na ocasião que conheceu Pazuello, que coordenava os esforços em Roraima.

Ano passado, Wizard se filiou ao PSDB a convite do governador João Doria e foi considerado para ser o candidato do partido nas eleições municipais de Campinas. Mas preferiu aceitar o convite do general intendente em abril do ano passado, tornando-se conselheiro sem remuneração no Ministério da Saúde.

Lidando com a burocracia, o “mago” agiu como peça-chave para negociar a compra de insumos para a produção de cloroquina e hidroxicloroquina, importados da Índia. Questionado sobre o assunto, ainda em 2020, negou qualquer rumor de que o negócio tivesse sido feito por intermédio de suas empresas. “Nós vendemos pizza”, brincou.

Em junho do ano passado, ele foi convidado para ocupar um cargo efetivo no ministério, na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, mas recusou a oferta. “Existe muita questão ideológica da cloroquina, mas não muda o fato de que usamos esses medicamentos há 70 anos. Não vai matar a pessoa”, disse Wizard em entrevista à revista Veja na época, quando defendeu o chamado “tratamento precoce”.

“Eu tenho um filho, Charles Martins, que passou dois anos na África e tomava a cloroquina toda semana. Teve algum dano ou prejuízo? Pelo contrário, tem uma mente brilhante e uma cabeça iluminada”, jurou o bilionário.

Em depoimento à CPI da Covid, em 20 de maio, Pazuello se esquivou das perguntas sobre a compra dos produtos. “Não comprei nenhum grama de hidroxicloroquina, não fomentei o uso da hidroxicloroquina. Mandei distribuir tudo o que me foi pedido. Se o estado pedia, eu tenho, eu entrego”, declarou.

No último dia 9, o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco reforçou a versão do chefe. “Por solicitação do general Pazuello, eu informo que durante a nossa gestão não ocorreu aquisição de cloroquina para o ano de 2020 para o combate a Covid-19”, afirmou Élcio Franco na ocasião, com uma ressalva: “Identificamos que, para atender ao programa antimalária do primeiro semestre, em 30 de abril de 2020, foi assinado um termo aditivo ao TED (Termo de Execução Descentralizada) com a Fiocruz no valor de R$ 50 mil, visando a aquisição desse fármaco para entrega posterior”.

Da Redação

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