Bolsonaro fará Brasil perder recursos da China, alertam deputados

Enio Verri (PR) e Arlindo Chinaglia (SP) criticam Bolsonaro por colocar ideologia acima de interesses comerciais do país

Gustavo Bezerra

Deputados do PT alertam sobre prejuízos econômicos causados pela postura de Bolsonaro com relação a China

Os deputados petistas Enio Verri (PR) e Arlindo Chinaglia (SP) consideram que o governo Bolsonaro demonstra “profunda ignorância” e “falta de conhecimento histórico” ao colocar a ideologia acima dos interesses comerciais brasileiros na relação comercial entre Brasil e China. Reportagem publicada no jornal Valor Econômico, nesta quinta-feira (7), aponta que a retórica anti-China de Jair Bolsonaro está travando investimentos bilionários no País.

O jornal lembra que o primeiro desembolso do fundo multibilionário idealizado pelos dois países para impulsionar a cooperação econômica bilateral já está prejudicado. Lançado em 2015 o Fundo de Cooperação Brasil-China para Expansão da Capacidade Produtiva, acordado pela então presidenta Dilma Rousseff e o primeiro-ministro Li Keqiang, demorou quase três anos para ser estruturado e chegar à lista final de candidatos aos primeiros aportes.

De acordo com o jornal, o Fundo de Cooperação Brasil-China poderia chegar a US$ 20 bilhões em investimentos. Desse montante, US$ 15 bilhões seriam do Fundo de Cooperação Chinês para Investimento na América Latina (Claifund) e o restante viria do lado brasileiro. Para o deputado Enio Verri (PT-PR) o governo Bolsonaro precisa entender que os interesses comerciais devem prevalecer sobre meras posições ideológicas.

“O presidente Bolsonaro e o seu chanceler [Ernesto Araújo] têm demonstrado profunda ignorância na estratégia das relações internacionais, ao tratar o maior parceiro comercial do Brasil como adversário dentro de uma perspectiva ideológica. Isso prejudica o Brasil e ajuda apenas os Estados Unidos da América. O Donald Trump, claro, agradece”, ironizou Verri.

Arlindo Chinaglia lembrou que, ao atacar a China e favorecer a relação desta com os Estados Unidos, o governo Bolsonaro dificulta a entrada de investimentos deste país no Brasil.

“Dadas as declarações de hostilidades, tanto do presidente da República, quanto também da política levada a cabo pelo chanceler [Ernesto Araújo], em subordinação total aos norte-americanos, a China está revendo [os investimentos] porque quer saber qual vai ser a relação [entre Brasil e China] ”, disse Chinaglia, que foi presidente do Parlamento do Mercosul em 2017.

Pragmatismo

Chinaglia destacou ainda que, se tivesse conhecimento da história brasileira, o próprio Bolsonaro aprenderia que, em outros períodos, governos brasileiros trataram de manter boas relações comerciais com países de ideologias opostas.

“Você não faz relações internacionais querendo impor aos outros países os seus valores. Na ditadura militar o governo foi primeiro a reconhecer a independência e o governo de Angola, comandado por um grupo guerrilheiro de esquerda. Portanto, é preciso saber o mínimo de história para defender a soberania brasileira, os interesses nacionais, para gerar empregos, para gerar investimentos e (assim) parar de fazer bobagem e não acabar de afundar o Brasil”, lembrou o parlamentar paulista.

Projetos

Segundo apurou o Valor Econômico, a linha de transmissão responsável pelo escoamento de energia da usina hidrelétrica de Belo Monte (PA) até o Rio de Janeiro estava praticamente definida como desembolso inaugural. Orçado em quase R$ 10 bilhões, o linhão está em obras e tem previsão de entrega para dezembro. Ele vem sendo financiado com empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A intenção era usar recursos do fundo como “equity” para a compra de uma fatia acionária de até 40% do empreendimento controlado pela State Grid.

Na reta final das tratativas, declarações de Bolsonaro sobre os investimentos chineses no país levaram Pequim a colocar um freio na liberação dos recursos. Antes mesmo de começar formalmente a campanha eleitoral, o então pré-candidato do PSL irritou o Partido Comunista da China ao viajar em fevereiro para Taiwan, como parte de um giro pela Ásia. A ilha tem sua soberania reivindicada pelos chineses, que a consideram uma província sem direito de ter relações independentes com outros Estados.

Em pleno segundo turno, Bolsonaro queixou-se de que a China, responsável por US$ 69,2 bilhões em investimentos no Brasil acumulados de 2003 a 2018, “não está comprando no Brasil, está comprando o Brasil”. Já na liderança das pesquisas, ele ainda falou sobre a China para ilustrar suas preocupações com a privatização da Eletrobras: “Quando você vai privatizar, você vai privatizar para qualquer capital do mundo? Vai deixar o Brasil na mão do chinês?”.

O deputado Arlindo Chinaglia disse que, mesmo contrário aos ataques de Bolsonaro a China motivado pelo viés ideológico do governo, é totalmente contrário à privatização da Eletrobras.

Por Héber Carvalho do PT na Câmara com informações do Valor Econômico

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