Calado, conselheiro de Bolsonaro assina confissão de culpa por mortes

Diante do silêncio de Carlos Wizard, senadores expõem vídeos e reportagens nos quais o empresário faz defesa de tratamento precoce e desdenha de vítimas da Covid que morreram porque “ficaram em casa”

Foto: Agência Senado

O "depoimento" de Carlos Wizard contrastou com sua atuação nas redes sociais, onde mentiu compulsivamente sobre medicamentos sem eficácia contra a Covid-19 e zombou de vítimas fatais da doença

Finalmente presente à CPI da Covid, nesta quarta-feira (30), o fujão Carlos Wizard recorreu a um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luis Roberto Barroso para ficar em silêncio e não responder a nenhuma pergunta dos senadores. O empresário, cérebro do gabinete paralelo, cuja atuação desastrosa colocou o país na dianteira do ranking mundial de mortos diários por Covid, ficou calado diante de dezenas de perguntas feitas pelo relator Renan Calheiros e outros parlamentares. Diante do silêncio vergonhoso do empresário, Calheiros expôs vídeos nos quais Wizard aparece como mentor do gabinete das sombras de Bolsonaro. Wizard ficou conhecido como um dos principais conselheiros do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.

O “depoimento” do empresário contrastou com sua atuação nas redes sociais, onde mentiu compulsivamente sobre medicamentos sem eficácia contra a Covid-19 e zombou da adoção do isolamento social. A CPI exibiu , por exemplo, um vídeo no qual Wizard desdenha de modo criminoso dos mortos pela doença, dizendo que cinco vítimas foram a óbito porque “ficaram em casa”.

Outras evidências de ações criminosas foram identificadas pela análise vídeos e reportagens com e sobre Wizard, a despeito da postura do empresário. Seu silêncio foi comparado pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE) ao de Bolsonaro em relação ao escândalo da Covaxin.

“É uma marca do governo Bolsonaro, e dos aliados do presidente que vieram aqui, ficar em silêncio, ou mentir diante dos escândalos de corrupção revelados por esta CPI”, disse Carvalho. “O senhor se mantém calado, até na hora de se defender, postura muito parecida com a do presidente, que até agora está em silêncio e não desmentiu o deputado Luis Miranda”, disse.

Carvalho ressaltou que ele criticou o Senado por lutar por vacinas enquanto atuava em um gabinete “antivacina” e fez suposto lobby para a compra da vacina da China CanSino e em favor do setor privado de saúde.

“O senhor Carlos Wizard patrocinou médicos pra enganar brasileiros com a cloroquina, atuou em favor de duas empresas para a compra de cloroquina, orientou o presidente a manipular o número de mortos no Brasil, participou da compra superfaturada da Cansino”, detalhou o senador. Carvalho anunciou que irá encaminhar ao Ministério Público Federal o pedido de investigação pela responsabilidade de Wizard  na morte de 516 mil brasileiros.

Em um dos poucos momentos que falou, Wizard utilizou-se de um patético farisaísmo para tentar fazer propaganda de ações enganosamente filantrópicas, registradas em um livro. Ele foi, no entanto, advertido por Rogério Carvalho: “Se o depoente não se dispõe a falar, não tem direito a fazer proselitismo, autopropaganda, autopromoção. Porque isso é um escárnio, um desrespeito a essa comissão”, reclamou o senador.

Wizard, entusiasta fervoroso do tratamento precoce

O senador Humberto Costa (PT-PE) chamou a atenção para o peso da atuação de Wizard na pandemia, seja na defesa do uso da cloroquina e outros medicamentos ineficazes contra a Covid-19, ou na fervorosa militância contra medidas de proteção à doença.

“Esse tratamento precoce foi utilizado principalmente para sabotar as ações do isolamento social”, apontou Costa, enumerando outros flancos de atuação ilegal do empresário, como a aquisição de insumos e reuniões paralelas no Ministério da Saúde. “Ele exerceu papel importante no lobby pelo tratamento precoce, vendendo a ideia de que havia uma cura milagrosa para a covid”, denunciou.

Wizard, criador involuntário do consórcio de imprensa

Costa também apontou Wizard como criador involuntário do consórcio de veículo de imprensa, que passou a coletar, junto às secretarias Estaduais de Saúde, números relativos à pandemia, após o governo passar a esconder os dados, em meados de 2020.

“Ele foi mentor de uma ideia terrível, de maquiar o número de pessoas que morriam por conta da Covid”, acusou o senador. “Ele queria que isso [os dados sobre mortes] fosse sonegado à população brasileira”, disse Costa, que também leu declaração do empresário sobre a estratégia criminosa.

“Ainda bem que a imprensa brasileira atuou de forma transparente”, agradeceu o senador, lembrando que a manobra do governo desenhada por Wizard “revoltou o Brasil inteiro”.

Wizard, cérebro do gabinete paralelo

Humberto Costa também afirmou não haver dúvidas de que Carlos Wizard é o grande mentor do gabinete paralelo. “Ele é um defensor da necessidade de que superem barreiras burocráticas no setor público. A melhor maneira é ter um instrumento informal para definição da política de enfrentamento à Covid”, argumentou o senador.

Humberto Costa perguntou sobre a negociação, que teria sido intermediada por Wizard, para a importação de dez toneladas de insumos para a produção de cloroquina no valor de R$ 30 milhões. O empresário ficou em silêncio.

Wizard, mago do curandeirismo charlatão

Costa mencionou entrevistas de Wizard que comprovam sua atuação criminosa à frente do gabinete de negacionistas de Bolsonaro, com declarações em nome do tratamento precoce, em tom charlatão de curandeirismo.

Carvalho concordou: “O senhor cometeu o crime de charlatanismo e curandeirismo por exercício ilegal da medicina, um crime contra o povo brasileiro e contra a vida”. “Causa espécie o tipo de ação que foi feita por essa aliança que envolve Bolsonaro, maus empresários, e que causou muito mal ao Brasil”, lamentou Humberto Costa.

Corrupção revolta senadores

O escândalo de corrupção de Bolsonaro envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin também foi tratado por Humberto Costa. “Além de toda essa nocividade causada, há a nova política com o velho esquema da corrupção”, frisou o senador.

O senador demonstrou indignação com as explicações “furadas”  de Bolsonaro sobre o esquema. “Essa conversa de “eu não estou sabendo de nada”, que agora Bolsonaro diz ao Brasil, não convence ninguém”.

“As pessoas estão atentas, acompanham tudo o que esta acontecendo, e sabem muito bem que esse governo só representa vergonha mundial, sofrimento ao povo e, para a política, o retorno de velhas formas já condenadas pela população”.

Veja abaixo a lista dos próximos convocados a depois na CPI:

  • Ricardo Barros, líder do governo na Câmara
  • Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística do MS
  • Marcelo Bento Pires, coordenador de logística do MS
  • Regina Célia Silva Oliveira, servidora do MS
  • Thiago Fernandes da Costa, servidor do MS
  • Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da Davati
  • Cristiano Alberto Carvalho, procurador da Davati
  • Rodrigo de Lima, funcionário do MS
  • Rogério Rosso, diretor da União Química
  • Robson Santos da Silva, secretário de saúde indígena do MS
  • Túlio Silveira, representante da Precisa
  • Emanuela Medrades, diretora da Precisa
  • Antônio José Barreto de Araújo Junior, ex-secretário do Ministério da Cidadania
  • Danilo Berndt Trento, sócio da Primarcial
  • Emanuel Catori, sócio da Belcher
  • Gustavo Mendes Lima, gerente da Anvisa
  • Luciano Hang, dono da Havan
  • Antonio Jordão de Oliveira Neto, médico
  • Adeílson Loureiro Cavalcante, ex-secretário do MS
  • Silvio de Assis, empresário

Da Redação

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