Carestia de combustíveis enriquece acionistas às custas do povo

Gasolina já acumula alta de 73,4%, diesel, de 65,3%, e gás, de 100,5% nas refinarias este ano. Reajustes vão prosseguir enquanto durar a dolarização dos preços

A direção da Petrobras resolveu “comemorar” os cinco anos exatos da infame política do preço de paridade de importação (PPI) anunciando, nesta segunda-feira (25), a alta da gasolina (7,05%) e do diesel (9,15%) nas refinarias, 17 dias após o último reajuste, de 7,2%. Em todo o país, brasileiros amanheceram nesta terça (26) em filas quilométricas diante de postos que ainda não haviam repassado o aumento para as bombas.

Durante todo o desgoverno Bolsonaro, a gasolina acumula aumento de 106,6% nas refinarias. O diesel subiu 81,4% desde janeiro de 2019 e o gás de cozinha, 100,5%. Neste ano já houve 12 reajustes da gasolina, 13 do diesel e 8 do gás liquefeito de petróleo (GLP) nas refinarias. A gasolina acumula alta de 73,4%, o diesel, de 65,3%, e o gás, de 100,5%. E enquanto perdurar a dolarização, os aumentos serão contínuos.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, prevê nova alta em breve. “Mesmo após a elevação ser efetivada, motivados pela pressão cada vez maior exercidas pelo câmbio e pelo barril de petróleo, estimamos que ainda haja espaço potencial de nova elevação de até 17% no curto prazo. Na semana passada, no auge da crise política que deteriorou ainda mais o câmbio, a defasagem chegou a se aproximar dos 30%.”

Sempre em busca de se eximir da responsabilidade por manter a dolarização adotada por Michel Temer, Jair Bolsonaro mencionou, no domingo (24), a cotação internacional para justificar as altas. “Temos aí, pelo que tudo indica, reajuste dos combustíveis. É só ver o preço do barril do petróleo lá fora e o comportamento do dólar aqui dentro”, disse, omitindo seu protagonismo na “crise política que deteriorou ainda mais o câmbio”.

O preço do barril de petróleo Brent encerrou a semana passada acima dos US$ 85,53. A alta é de 31,08% em relação aos preços médios de US$ 65 registrados no início deste ano. Já o dólar acumulou alta de 3% apenas na semana passada.

Ao El País, José Luis Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), explica que não há como o Brasil influenciar na cotação do petróleo no mercado internacional. Mas o “custo Bolsonaro”, ressalta, é o principal componente da desvalorização do real.

“O preço do barril de petróleo, atrelado ao que chamamos de custo Bolsonaro, reforçado pelo completo isolamento do Brasil devido à política ambiental desastrosa do governo, e as frequentes crises políticas que o presidente causa, geram o aumento das incertezas e levam à fuga de capital”, afirmou. “Se não fosse essa péssima imagem que o Brasil tem no exterior, certamente o dólar estaria abaixo de 5 reais.”

Além dos fatores econômicos, externos e externos, ainda há a redução da capacidade de refino. Graças à política de desinvestimentos da Petrobras – iniciada em 2017, sob o usurpador Temer, e também mantida por Bolsonaro – hoje o Brasil exporta mais petróleo bruto e importa mais gasolina.

Desde outubro de 2016, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e seus sindicatos alertam para as intenções por trás dessa medida: a subutilização das refinarias com fins de privatização e o favorecimento das empresas de importação de combustíveis. Nos últimos anos, o fator de utilização de refinarias (FUT) caiu de 94% para 70%.

“A nossa dependência da gasolina importada já foi menor porque antes a Petrobras maximizava as refinarias”, lembra o professor Oreiro. “Agora, como temos que importar mais gasolina, a Petrobras mantém a paridade com o preço internacional.”

Prejuízo para consumidores, lucros para acionistas

O aumento dos combustíveis é uma das principais causas da disparada da inflação. Além do impacto direto sobre os indicadores econômicos, as altas desencadeiam efeitos em cascata sobre diversos custos de produção, transportes e preço das mercadorias.

A Bancada do PT na Câmara repudiou nesta terça, em nota assinada pelo líder Elvino Bohn Gass (RS), a irresponsabilidade bolsonarista diante da “grave crise econômica e social que o País atravessa”. Na nota, a Bancada afirma que o Brasil está imerso em um “cenário caótico”, citando como exemplo o caso da Petrobras, que atua como “fonte de lucros exorbitantes para rentistas e especuladores nacionais e estrangeiros”, com a dolarização dos preços, a despeito dos impactos no bolso dos consumidores.

Um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/subseção FUP) revelou que, entre abril de 2016 e setembro de 2021, a produção nacional de petróleo cresceu 33% e o custo de extração caiu 39,3%. O resultado se deve às tecnologias desenvolvidas pela Petrobras e à produtividade do pré-sal. A queda nos custos de refino foi de 28,2%, mas o preço dos combustíveis não para de subir.

Desde a implantação do PPI, nos últimos cinco anos (outubro de 2016 a outubro de 2021) as altas nas refinarias chegaram a 107,7% para a gasolina, 92,1% para o diesel e 287,9% para o gás de cozinha. Nos postos, a gasolina subiu 74,%, o diesel, 68,2%, e o gás de cozinha, 84,2%.

No mesmo período, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE foi de 25,4%. Aplicada essa correção aos preços, o botijão de 13kg de gás custava em média R$ 69,21 em outubro de 2016. O litro da gasolina era vendido a R$ 4,58 e o do diesel, a R$ 3,76.

Na semana passada, antes do novo reajuste, a média de revenda do botijão era de R$ 101,96 (47% acima da inflação), o litro da gasolina alcançou R$ 6,36 (alta real de 39%) e o do diesel, R$ 4,98 (alta real de 32%).

“Esses reajustes que a gestão da Petrobras, com o aval de Bolsonaro, vem aplicando no gás, no diesel e na gasolina podem ser evitados. Basta a empresa parar de usar somente a cotação do petróleo e do dólar e os custos de importação e considerar também os custos nacionais de produção. Afinal, a empresa utiliza majoritariamente petróleo nacional que ela mesma produz”, criticou o coordenador-geral da FUP,  Deyvid Bacelar.

Em agosto, a Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet) denunciou em nota a mudança ocorrida na política de distribuição de dividendos da empresa. Agora, eles serão pagos mesmo se a empresa tiver prejuízo. A nota foi veiculada após a empresa anunciar a antecipação de R$ 31,6 bilhões em dividendos aos acionistas.

A notícia fez disparar os DRs (certificados de ações) negociados em Nova York, segundo a Aepet. “Esse aumento especulativo aumenta ainda mais os ganhos dos acionistas que participam da Bolsa de Nova York”, afirmou a entidade.

“A agitação do mercado americano tem uma razão simples”, prosseguiu a nota. “No total de ações ordinárias, que têm direito a voto nas deliberações da Assembleia Geral da empresa, os acionistas não brasileiros já representam 39,28%, sendo as do estado nacional 50,50%. No total das ações preferenciais, que não têm direito a voto, mas preferência na distribuição de lucros, os não brasileiros detêm 44,80% e o governo brasileiro apenas 18,48%.”

Nesta segunda, após o anúncio de alta dos preços e a Petrobras informar que consultou o governo sobre a existência de estudos para a venda de ações da companhia, as ações PETR4 (preferenciais) fecharam em alta de 6,84%, a R$ 29,04. No ano, o papel acumula ganhos de 12,22%. As ações PETR3 (ordinárias) fecharam em alta de 6,13%, a R$ 29,61, acumulando avanço de 12,28% em 2021.

No mesmo dia, em cerimônia no Palácio do Planalto, Guedes disse que apenas a menção de que a Petrobras poderia ser privatizada teve como efeito aumentar em quase R$ 100 bilhões o valor de mercado da empresa. Bom para os acionistas. Já o povo…

Da Redação

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