Celso Amorim: “Há uma ameaça direta de invasão pelos EUA. Seria a primeira vez na América do Sul”

Para o ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa dos governos Lula e Dilma, a estratégia da Casa Branca “causa temor sobre uma ação de guerra”. E alerta: “Caso ocorra, uma invasão dos EUA marcaria todo o século 21”

EBC

Ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim

Ex-ministro da Defesa do Brasil, Celso Amorim concedeu entrevista ao Sputnik Mundo, alertando para a situação atual no país, envolvendo a conjuntura, a atuação do presidente Jair Bolsonaro e a relação com as Forças Armadas. Ele também destaca a possibilidade de uma eventual invasão norte-americana na América do Sul.

A ameaça de Washington contra Caracas e o desdobramento do Pentágono no Caribe provocam um temor de uma ação que afetaria gravemente a região. “Existe uma ameaça direta de invasão. Seria a primeira vez na América do Sul”, alertou o ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula. Ele faz uma análise profunda da atual crise política em seu país.

O diplomata ressalta que o Brasil poderia apoiar uma invasão dos EUA, até porque já teria apoiado outros planos norte-americanos contra a Venezuela, citando o apoio do atual ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo. O chanceler de Bolsonaro “apoiou o plano de [Mike] Pompeo para a transição da Venezuela […] Os militares são conservadores, porém têm sentido comum”.

Para Amorim, estratégia da Casa Branca “causa temor sobre uma ação de guerra”. “Provavelmente farão com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, o mesmo que fizeram com Manuel Noriega no Panamá em 1989 […] Seria a primeira invasão dos EUA na América do Sul e isso ficaria marcado por 100 anos”, adicionou.

“Os EUA montaram o cenário das drogas porque não podem dizer que Maduro tem armas de destruição em massa”, como mentiram com Saddam Hussein para justificar o bombardeio contra o Iraque, ironizou o diplomata brasileiro.

Bolsonaro e os militares

Questionado sobre os “problemas institucionais” no Brasil, o diplomata considerou que o general Braga Netto, ministro-chefe da Casa Civil, evidencia um “aspecto mais orgânico das Forças Armadas no governo e maior influência”.

Além disso, o ex-ministro enfatizou que Bolsonaro não estaria perdendo o comando da Presidência, e que os boatos sobre Braga Netto não passam de informações mal interpretadas.

“A única influência que Bolsonaro estaria sofrendo seria na parte econômica, que tem a marca do ministro da Economia, Paulo Guedes, que até o momento, não sofreu a influência dos militares”, afirmou.

Dessa maneira, deve-se ter cautela em dizer que Braga Netto seja o presidente operacional, “entretanto as outras partes do governo aparentemente querem uma grande coordenação no âmbito da saúde, transporte e infraestrutura”.

Ou seja, essa influência estaria limitando e moderando as ações de Bolsonaro, entretanto, atualmente, Guedes e os militares estariam coordenando o governo.

 

Classe empresarial

Segundo o diplomata, o apoio da classe empresarial a Bolsonaro está muito debilitado. E, por sinal, estava ficando cada vez mais debilitada nos último quatro ou cinco anos. “Hoje, os apoiadores de Bolsonaro são supermercados, alguns produtores agrícolas e outras empresas que não têm força econômica no Brasil”, pondera.

Na opinião do ex-chanceler, Bolsonaro não conta com o apoio das fortes associações empresariais capazes de “erguer” a economia brasileira, mas, sim, apenas com a classe média empresarial.

 

Da Redação, com informações da Sputnik Mundo.

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