Celso Amorim: tensões nos países da América do Sul estão interligadas

Chanceler esteve no lançamento da revista Perseu: História, Memória e Política, e falou brevemente sobre a crise política na região; José Genoino também marcou presença

Sérgio Silva

Celso Amorim

A Fundação Perseu Abramo (FPA) lançou, durante seminário realizado nesta segunda-feira (11), o número 18 da revista “Perseu: História, Memória e Política”, um amplo dossiê sobre a atuação dos militares na política. A obra, dedicada ao economista Gustavo Codas (falecido recentemente e responsável pela sugestão do tema), reúne contribuições na forma de artigos e ensaios, além de uma entrevista com ex-ministro das Relações Exteriores de Lula Celso Amorim.

Presente no lançamento, o chanceler falou brevemente sobre a atuação diplomática em curso no Brasil – uma catástrofe, segundo ele, e que tende a isolar o país do restante do mundo. Amorim também analisou o levante progressista iniciado na América do Sul, ainda que na Bolívia o desfecho tenha sido mais uma vez um golpe de estado. E fez um alerta: “Não dá para pensar no Brasil isolado do resto do continente. O que acontece aqui, na Bolívia ou Chile é o resultado de um contexto mais amplo”.

Tal contexto, prossegue Amorim, tem a ver com interesses econômicos ligados ao neoliberalismo – cujo grande articulador mundial são os Estados Unidos. E a própria história do continente mostra que, afrontar tais interesses, sempre gerou distúrbios políticos na região.

“Tivemos uma volta da esperança de derrotar o neoliberalismo com sua faceta mais autoritária a partir da vitória de Alberto Fernandéz na Argentina, os protestos no Chile, no Equador e agora com a libertação de Lula, claramente um símbolo mundial dessa luta.  Isso coroa um esforço coletivo muito amplo.  Mas ainda estamos vivendo um momento muito dramático na região. Não lembro de um conjunto de acontecimentos tão profundos quanto os de agora na América do Sul”, explica.

Autor de um dos artigos da revista Perseu e também presente no evento, o ex-presidente do PT José Genoino complementou: “A hegemonia neoliberal coloca os militares para cuidar dos assuntos internos e não apenas para proteger o país de ameaças externas. Isso é o que acontece em regimes autoritários. O que está acontecendo na América do Sul, com todas as ameaças em andamento, comprova isso”.

O seminário da revista Perseu contou ainda com o historiador Manuel Domingos Neto, professor das universidades Federal do Ceará e Federal Fluminense, Héctor Saint-Pierre, assessor especial do Ministério da Defesa nos governos Lula e Dilma, e da socióloga Isabel dos Anjos, e diretora da FPA.

Futuro indefinido na Bolívia

 

A reviravolta na situação da Bolívia, logo após a realização do pleito eleitoral que manteria Evo Morales no cargo pelo voto, traz preocupações extras ao continente, avalia Amorim. “O que aconteceu por lá foi um golpe, não há dúvida. O Evo, demonstrando até uma generosidade, aceita convocar novas eleições, mas forçado a renunciar pelos militares. Isso deixou as coisas muito evidentes”.

O diplomata enxerga na movimentação rápida para retirar Evo do cargo um sinal de que as direitas latino-americanas vão querer demonstrar ainda mais forças. Mas faz uma ressalva: “a Bolívia é um país muito complexo. A mobilização indígena é extremamente forte. Quem for governar o país terá de aceitar o fato de a população ter 65% de indígenas (que é a base eleitoral de Evo)”.

Por Henrique Nunes da Agência PT de Notícias

 

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