Crianças Yanomami são sugadas e mortas por draga de garimpo, em Roraima

Tragédia aconteceu no Dia das Crianças na comunidade Makuxi Yano, região do Parima, em Terra Indígena Yanomami. O corpo de uma criança de 7 anos foi encontrado, outra de 5 anos segue desaparecida

Os constantes abusos do garimpo ilegal contra os povos indígenas no Brasil resultaram na morte de duas crianças da comunidade Makuxi Yano, região do Parima, que fica em Terra Indígena Yanomami, em Roraima. No Dia das Crianças, uma draga sugou dois meninos de 7 e 5 anos que estavam brincando perto da barca utilizada por garimpeiros. Uma criança ainda permanece desaparecida.

A Hutukara Associação Yanomami (HAY) emitiu uma nota sobre o desaparecimento das duas crianças logo após lideranças indígenas da comunidade entrarem em contato.

Os dois meninos foram sugados pelo equipamento, que faz retirada de minérios na região do rio Uraricuera, no município de Alto Alegre. Depois, elas foram cuspidas para o meio do rio e levada pelas correntezas. O corpo de Bombeiros está na região para ajudar na busca pelos corpos.

Conforme o vice-presidente da HAY, Dario Kopenawa Yanomami, os garimpeiros exploram a região há quase seis anos e os equipamentos ficam a 300 metros da comunidade.

“A situação é grave. A draga é um problema sério na Terra Indígena Yanomami, há quase seis anos. Estamos muito tristes e revoltados com os futuros guerreiros que foram mortos”, lamenta Dario.

Para a Secretária Nacional de Movimentos Populares do PT, Lucinha Barbosa, a morte das duas crianças é inaceitável.

“Uma notícia estarrecedora e cruel. Não podemos banalizar o aumento da violência contra os povos indígenas. O garimpo ilegal está matando, roubando e causando destruição impunemente. Nós exigimos a responsabilização dos culpados”.

Invasão

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) se manifestou em relação à morte das duas crianças e ressaltou que o ocorrido é mais um triste resultado a presença do garimpo na Terra Yanomami, que segue invadida por 20 mil garimpeiros.

Conforme a APIB, até setembro de 2021, a área de floresta destruída pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami superou a marca de 3 mil hectares – um aumento de 44% em relação a dezembro de 2020. Somente na região do Parima, onde está localizada a comunidade de Macuxi Yano e uma das mais afetadas pela atividade ilegal, foi atingido um total de 118,96 hectares de floresta degradada, um aumento de 53% sobre dezembro de 2020.

Além das regiões já altamente impactadas, como Waikás, Aracaçá, e Kayanau, o garimpo avança sobre novas regiões: em Xitei e Homoxi, a atividade teve um aumento de 1000% entre dezembro e setembro de 2021.

O Fórum de Lideranças da Terra Indígena Yanomami se reuniu em setembro para trazer a voz da floresta, e já dissemos: o aumento da atividade garimpeira ilegal na Terra Indígena Yanomami está se refletindo em mais insegurança, violência, doenças, e morte para os Yanomami e Ye’kwana. As autoridades brasileiras precisam continuar atuando para proteger a Terra-Floresta, e impedir que o garimpo ilegal continue ameaçando nossas vidas”.

Genocídio

O projeto de extermínio étnico do desgoverno Bolsonaro trouxe inúmeras perdas para os povos indígenas. Ainda em promessa de campanha, o presidente sempre deixou claro que a mineração em terras indígenas está em sua “lista de desejos”.

Em maio deste ano, garimpeiros atiraram contra indígenas na região Palimiú, que fica em uma comunidade indígena Yanomami, em Roraima. O que comprova a crescente violência, invasão de terras e o garimpo ilegal como uma política de Estado contra os povos indígenas.

Em junho, oito garimpeiros armados e encapuzados invadiram a Estação Ecológica de Maracá (RO), que dá acesso à terra indígena Yanomami, e fizeram três brigadistas reféns .

Durante o ataque, os invasores ameaçaram matar quem fosse fiscal do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e roubaram os equipamentos utilizados pelos analistas ambientais.

Não satisfeito, em sua linha de falácias incoerentes, Bolsonaro defendeu a demarcação de terras indígenas em seu discurso na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

Ela acredita que acabar com os direitos dos povos originários e aprovar o Marco Temporal é o caminho para garantir o alimento no prato de brasileiros e, inclusive, estrangeiros.

ONU pede proteção

Em setembro, em Genebra, a alta-comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, denunciou os abusos contra os povos indígenas no Brasil e pediu proteção aos Yanomamis e Mundukurus, ameaçados pelo avanço do garimpo na Amazônia.

Bachelet também criticou os projetos do Congresso Nacional que visam enfraquecer os direitos indígenas. As declarações foram feitas durante uma sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, no início desta semana. A ex-presidente chilena ainda pediu ao governo brasileiro para não sair da Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Da Redação

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