Depoimento de motoboy da VTCLog reforça tráfico de influência na Saúde

À CPI, Ivanildo Silva disse que entregava faturas no ministério. Senadores suspeitam de envolvimento da empresa em um esquema de corrupção com o ex-diretor de Logística da pasta, Roberto Dias

Em mais uma reviravolta na CPI da Covid, o motoboy da VTCLog Ivanildo Silva, que deixou de comparecer à oitiva de terça-feira (31), tomou o lugar do advogado Marcos Tolentino, que foi internado em São Paulo depois de passar mal. O depoimento de Silva, que realizou saques de R$ 4,7 milhões em dinheiro para a VTCLog, reforçou as suspeitas de ligações nada republicanas entre a empresa e o ex-diretor de Logística da Saúde, Roberto Dias. Aos parlamentares, o motoboy confirmou que compareceu diversas vezes à pasta para entregar faturas e fez pelo menos uma visita ao Departamento de Logística para levar um pendrive quando Dias ainda era diretor.

A VTCLog, que tem contratos milionários com o Ministério da Saúde em serviços de transporte de medicamentos , é investigada por um aditivo em um contrato com a pasta. Apesar de um salto de R$ 1 milhão para R$ 18 milhões, o contrato foi devidamente aprovado por Dias. A CPI também revelou que o motoboy realizou pagamentos de boletos em nome de Roberto Dias. Aos senadores, o funcionário da VTCLog disse lembra-se de fazer um saque de R$ 430 mil reais de uma só vez na Caixa Econômica do aeroporto de Brasília. 

O motoboy relatou ainda que fazia saques em espécie para pagar contas da empresa e devolvia o restante à funcionária do setor financeiro da VTCLog, Zenaide Sá Reis. Os senadores suspeitam que os saques tinham outro destino: pagamento de propina a servidores influentes dentro do Ministério da Saúde.

“Essa é a empresa responsável por armazenar e distribuir as vacinas”, exclamou o senador Humberto Costa (PT-PE). “Nas mãos de quem nós estamos?”, questionou Costa, que sugeriu ainda um aprofundamento das investigações sobre a atuação da VTCLog no governo Bolsonaro.  Para o senador, tanto a VTCLog quanto a Precisa Medicamentos tiveram clara preferência do governo Bolsonaro para fazer negócios na área da saúde.

“O governo Bolsonaro tinha um grande balcão de negócios com indícios claros de corrupção e isso não pode ser varrido para debaixo do tapete”, chamou a atenção o senador Rogério Carvalho (PT-SE). Ele levantou um histórico de um dos donos da empresa, Carlos Alberto Sá, e de como a VTCLog utilizou-se de tráfico de influência para conseguir o reajuste no contrato com o Ministério da Saúde, a despeito de parecer técnico da pasta contrário ao aditivo.

Segundo Carvalho, Sá pediu auxílio de Flávio Loureiro, Arthur Lira, para intervir a favor da empresa, sem sucesso. Depois, recorreu a outro Flávio, de Souza, que avançou na aprovação do aditivo. “Um contrato irregular, com dinheiro público, foi assinado por Roberto Dias, para abalar um escândalo de ordem pessoal de algum poderoso”, revelou Carvalho, citando reportagens veiculadas na imprensa. “Este é o governo sério, sem corrupção? Este é o governo da enganação”, denunciou.

Uso de dinheiro público para ato contra a democracia

No início da oitiva, Humberto Costa denunciou que o prefeito de Cerro Grande do Sul (RS), Gilmar João Alba, foi flagrado com R$ 505 mil no aeroporto de Congonhas (SP). Alba pretendia voar para Brasília com o dinheiro a fim de financiar atos golpistas no dia 7 de setembro.

Em resposta a um pedido de Costa, o presidente da CPI Omar Aziz (PSD-AM)  informou que irá encaminhar a denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que ministro Alexandre de Morais faça uma investigação.

Da Redação

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