Do Palácio, Gabinete do Ódio opera “franquia” norte-americana

Esquema criminoso de disseminação de fake news que opera desde as eleições de 2018 é desvelado pelo Facebook em matéria da Globo. Um dos meliantes é assessor no Palácio do Planalto, e outros são ligados aos filhos do presidente. Para Paulo Teixeira, é mais um motivo para a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão

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Gabinete do Ódio dissemina mentiras para atacar adversários do governo

A reportagem do programa ‘Fantástico’ desse domingo (2), sobre a máquina assassina de reputações do bolsonarismo, é mais uma evidência de que a vitória nas eleições de 2018 foi obtida por meio de métodos espúrios. “Matéria do Fantástico apresenta provas do Facebook, de que o gabinete do ódio funcionava dentro do Planalto e que as fake news foram difundidas nas eleições de 2018 por Bolsonaro. Isso caracteriza crime de responsabilidade e são provas suficientes para a cassação da chapa”, apontou o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) em seu perfil no Twitter.

O deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) seguiu a mesma linha: “Reportagem c/testemunho do diretor do Facebook aponta que Bolsonaro é o chefe da fábrica de difamação e fake news. Eduardo, Flávio, Tércio Arnaud e/assessores pagos c/$ público multiplicam mentiras. São crimes para cassar a chapa Bolsonaro/Mourão e prender estes criminosos”.

O escândalo teve início em 8 de julho, quando o Facebook derrubou uma rede de distribuição de fake news devido ao chamado comportamento inautêntico coordenado. Segundo a plataforma, havia um esquema com dezenas de perfis que escondiam a verdadeira identidade dos criadores. Essas contas acumulavam cerca de dois milhões de seguidores no Facebook e no Instagram – rede social que também pertence à empresa.

Os administradores das redes sociais descobriram que as contas e perfis falsos eram ligados aos gabinetes de Jair Bolsonaro, do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e dos deputados estaduais bolsonaristas Anderson Moraes (PSL-RJ) e Alana Passos (PSL-RJ). As páginas removidas tentavam manipular discussões na rede, difundiam fake news e atacavam adversários da família Bolsonaro.

Esquema palaciano

Entre os administradores dos perfis está o assessor especial de Bolsonaro, Tércio Tomaz, que trabalha no Palácio do Planalto. Tércio é acusado por parlamentares de integrar o gabinete do ódio — grupo encarregado de promover ataques virtuais a desafetos dos Bolsonaro que estaria sob o comando do filho vereador do chefe, Carlos Bolsonaro.

Além de uma conta pessoal, o assessor mantinha outras duas, anônimas, chamadas de ‘Bolsonaro News’. Na ‘Bolsonaro News’, ele se dedicava a atacar adversários políticos e a publicar notícias falsas sobre a pandemia do coronavírus.

Um dos vídeos postados por Tércio retirou do contexto uma entrevista de Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), sobre o isolamento social. No mesmo dia, Bolsonaro compartilhou o vídeo, dizendo que a OMS defendia a reabertura das cidades. No dia seguinte, foi desmentido pelo diretor da OMS em pessoa.

Outros dois assessores, ligados a Eduardo Bolsonaro, também operavam a rede de contas falsas. Um deles é Eduardo Guimarães, alvo da CPI das Fake News por ter usado um computador da Câmara dos Deputados para criar a conta de ataques virtuais ‘Bolsofeios’.

O segundo assessor é Paulo Eduardo Lopes, o Paulo Chuchu. Ex-policial militar, ele trabalhou no gabinete de Eduardo Bolsonaro até junho. Paulo teve seis contas derrubadas. Quatro se passavam por redações jornalísticas, como ‘The Brazilian Post’, ‘The Brazilian Post ABC’ e ‘Notícias São Bernardo do Campo’.

A deputada estadual Alana Passos (PSL), aliada da família Bolsonaro, também tem sob contrato um assessor que mantinha pelo menos oito páginas inautênticas: Leonardo Rodrigues de Barros. O presidente chegou a gravar um vídeo para uma delas: “Leonardo, parabéns pela página ‘Bolsonéas’. Está fazendo um trabalho excepcional, ficou muito feliz. Estamos juntos, tá ok?”, disse Bolsonaro na ocasião.

Ataque aos governadores

Na página ‘Bolsonéas’ havia mais fake news sobre a pandemia, culpando governadores e dizendo que a cloroquina cura a Covid-19. Suas publicações eram as mesmas do site ‘Jogo Político’, também criado por Leonardo.
As contas do ‘Jogo Político’ no Facebook e no Instagram foram tiradas do ar. Hoje Leonardo tem pelo menos duas páginas ativas no Facebook, onde compartilha o mesmo tipo de conteúdo criminoso.

Postagens feitas por Leonardo eram compartilhadas pela noiva, Vanessa Navarro, assessora do deputado estadual Anderson Moraes (PSL). Sete páginas ligadas a Vanessa foram derrubadas. Os nomes eram parecidos, apesar de pertencerem à mesma pessoa — uma prova, segundo o Facebook, do comportamento enganoso.

O histórico de postagens também revela as fake news utilizadas nas eleições de 2018 para disseminar calúnias e difamar adversários. Na campanha, a página ‘Bolsonaro News’ espalhou que a candidata Marina Silva defendia a legalização do aborto. Contra Fernando Haddad, o mais atacado, houve várias postagens fraudulentas, como a que vinculava o então candidato petista à Presidência a um suposto kit gay.

Detalhes dessa investigação sobre a rede brasileira vão ser encaminhados à Polícia Federal. A decisão foi tomada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, nos inquéritos que apuram a disseminação de fake news e o financiamento de atos antidemocráticos.

Esquema é “franquia” americana

O esquema criminoso operado pela rede bolsonarista é uma cópia do que foi usado nos Estados Unidos para a eleição de Donald Trump, com financiamento do bilionário de extrema direita Robert Mercer e seu funcionário simpatizante do nazismo Steve Bannon. Os métodos e técnicas continuam ativos na sustentação política dos governos.

O documentário ‘Driblando a democracia – Como Trump venceu’, sob a direção do francês Thomas Huchon, retrata a metodologia de trabalho de Steve Bannon, diretor de campanha do então candidato à presidência dos Estados Unidos que também atuou como consultor da campanha de Jair Bolsonaro.

O modus operandi de Bannon se fundamenta no tripé manipulação de dados, alcance nas redes sociais sob apelo popular e fake news. O filme mostra o papel exercido pela empresa Cambridge Analityca e a atuação de poderosos empresários americanos ultraconservadores para que se chegasse à vitória de Trump.

A produtora de filmes brasileira Ogum postou em sua página no portal Vimeo o documentário na íntegra. Assista:

Da Redação

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