Economista de Cambridge critica políticas do governo Temer

Sul-coreano Ha-Joon Chang critica políticas de livre mercado, ataca austeridade e afirma que estado deve estimular indústria

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Economista Sul-coreano Ha-Joon Chang critica austeridade

O sul-coreano Ha-Joon Chang é professor de economia da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e ficou conhecido pelo livro “Chutando a Escada”, onde critica a estratégia neoliberal utilizada por países ricos para impedir o desenvolvimento de outras nações.

Em entrevista ao jornal El País publicada na segunda-feira (15) ele criticou boa parte das políticas que hoje são bandeira do governo golpista: austeridade, corte de gastos e livre comércio. Para o sul coreano, é papel do estado induzir o desenvolvimento e também o crescimento.

Sobre as políticas neoliberais de livre comércio, amplamente defendidas pelo governo golpista de Michel Temer, o economista afirma que é impossível crescer sem protecionismo.

“Hoje, quando olhamos para os países ricos, em sua maioria, eles praticam o livre comércio. Por isso, é comum pensarmos que foi com esta receita que eles se desenvolveram. Mas, na realidade, eles se tornaram ricos usando o protecionismo e as empresas estatais”. Afirmou Chang.

Ele usou o exemplo da Inglaterra para ilustrar o conceito. “Quando você olha para a história inglesa, eles usaram todo o tipo de protecionismo para se tornar uma nação rica. A Inglaterra dizendo que países não podem usar o protecionismo é como alguém que após subir no topo de uma escada, chuta a escada para que outros não possam usá-la novamente”.

Para o economista, “do mesmo jeito que mandamos nossas crianças para a escola ao invés do trabalho quando são pequenas, e as protegemos até elas crescerem, os Governos de economias emergentes têm que proteger suas indústrias até que elas cresçam e possam competir com as indústrias de países ricos”.

Ele afirma que praticamente todos os países ricos se desenvolveram usando protecionismo, subsídios estatais, controle do investimento direto estrangeiro, e em alguns casos, empresas estatais. “Começando por Inglaterra no século XVIII, Estados Unidos e Alemanha, no século XIX, Suécia no começo do século XX, além de Japão, Coreia do Sul e Taiwan.”

O sul coreano também se colocou contra as medidas de austeridade, também conhecidas como ajuste fiscal. Não por acaso, o argumento dele é o mesmo do ex-presidente Lula: para diminuir o déficit, o país precisa crescer mais.

“A receita de austeridade usada na Grécia é a mesma tentada na América Latina, na África e em alguns países da Ásia nas décadas de 1980 e 1990, e que criou desastrosos resultados econômicos. Investir em política de austeridade é contraproducente”, afirma Chang.

“As pessoas que defendem esse tipo de política entendem que, quando você tem uma grande dívida pública, um jeito de reduzir essa dívida é cortar os gastos do Governo a fim de reduzir o déficit fiscal. Mas um jeito melhor de reduzir o déficit é fazer a economia crescer mais rápido”.

O exemplo citado por Chang é da Grã-Bretanha, que tinha uma dívida mais de 200% de seu PIB após a Segunda Guerra Mundial, mas sua economia estava crescendo rápido e depois de algumas décadas, isso deixou de ser um problema.

“Hoje, a Inglaterra tem tentado uma política de austeridade, mais amena que a da Grécia, é verdade, mas também sem sucesso em reduzir o déficit público proporcionalmente a renda nacional. Isso porque o PIB está crescendo muito lentamente. Se você corta os gastos, seu endividamento pode ficar um pouco menor, mas a renda precisa crescer”, comenta.

Ao contrário da cartilha neoliberal, o economista defende que é papel do estado estimular o desenvolvimento da indústria.

“Ao contrário de outros países em desenvolvido, o Brasil tem a habilidade de fazer as coisas acontecerem por meio da intervenção governamental. A Embraer, por exemplo, é uma empresa de economia mista. A agricultura no Cerrado é subsidiada com recursos do governo. Em vários setores, o país já mostrou que quando quer fazer uma coisa, ele consegue”.

“Infelizmente, os responsáveis por fazerem as políticas públicas parecem que perderam o rumo. Eles basicamente desistiram do modelo de desenvolvimento econômico por meio de um upgrade na economia, com investimento em indústrias de alta tecnologia.”

Da Redação da Agência PT Notícias com informações do El País

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