Em plena pandemia, maiores bancos privados acumulam superlucros

Com a ajuda de Bolsonaro, Itaú, Bradesco e Santander colhem resultados positivos enquanto a economia despenca no abismo. Mesmo faturando, continuam fechando agências e demitindo

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Grande parte dos ganhos veio da demissão de funcionários em plena pandemia

Pandemia, lockdown, desemprego galopante, falência de empresas, perda de renda generalizada, fome. Nada disso abala a única constante da economia brasileira: o lucro dos bancos. Nesta semana, as três principais empresas privadas do ramo cotejaram seus resultados no primeiro trimestre em tons de azul: juntos, Bradesco, Itaú e Santander lucraram R$ 16,9 bilhões, ou 46,9% mais do que no mesmo período de 2020. E R$ 300 milhões acima da soma dos lucros registrados no primeiro trimestre de 2019.

O Bradesco (R$ 6,5 bilhões, alta de 73,6%) foi o que mais lucrou, seguido pelo Itaú (R$ 6,4 bilhões, alta de 63,5%). Embora a menor alta (4,8%) tenha sido do Santander, o lucro de R$ 4 bilhões, é o maior do banco para o primeiro trimestre desde 2010 e representou 21% do lucro recorrente global da corporação.

“É um resultado muito expressivo para um ano de pandemia e com um cenário econômico tão delicado no país”, avalia Vivian Machado, técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), na subseção da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).

Segundo Vivian, a rentabilidade também oscilou para cima: ”Variou entre 18,7% (no Itaú Unibanco e no Bradesco, ambos crescendo 5,7 pontos percentuais e 7 pontos percentuais, respectivamente) e 20,9% no Santander”.

“Estamos trocando as dúvidas sombrias por uma narrativa virtuosa”, afirmou triunfalmente o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, no comunicado de divulgação do balanço. “Em termos objetivos, os bancos estão preparados para enfrentar o cenário desafiador da pandemia.”

Para Lazari, há clima para o banco “sair da defensiva” e buscar novos negócios que ampliem seu volume operacional. Contanto que o ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes, mantenha a cobertura de provisão para créditos de liquidação duvidosa, conhecida pela sigla PDD, que equivale a 350% do saldo de empréstimos em atraso superior a 90 dias do banco.

“No 1º trimestre do ano passado, houve queda nos balanços, mas não necessariamente por problemas na atividade financeira. O que houve é que, diante de um cenário imprevisível, com a pandemia decretada, os bancos subiram o provisionamento, temendo uma explosão da inadimplência”, explica Vivian Machado ao site Brasil de Fato.

“A verdade é que os bancos nunca pararam de lucrar alto. Os crescimentos deste primeiro trimestre são comparados a números rebaixados artificialmente pelos bancos com provisões estrondosas no ano passado”, observa Mario Raia, secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf. “As provisões acabaram maquiando o grande lucro que eles tiveram no ano passado, assim como tiveram este ano, mostrando, mais uma vez, que os bancos, com crise ou sem ela, lucram muito.”

Menos de uma semana após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a pandemia, o Banco Central (BC) iniciou um amplo programa de liberação de R$ 1,274 trilhão em recolhimentos compulsórios sobre depósitos à vista, a prazo e de poupança, outros R$ 1,348 trilhão em alívio de capital para encaixes e ainda a redução de provisões no total de R$ 3,2 trilhões para renegociação de dívidas.

Mas apesar da enxurrada de R$ 5,922 trilhões, o sistema financeiro só transformou em empréstimos 23,7% (R$ 1,306 trilhão). Na prática, os bancos usaram a redução dos compulsórios e a liberação das provisões precaucionais para melhorar a liquidez interna. E não transferiram para empresas e clientes pessoas físicas na velocidade e volumes esperados as linhas de liquidez abertas pelo BC.

Conforme os números apresentados em março pelo presidente da instituição, Roberto de Oliveira Campos Neto, para alunos da Escola de Administração de Negócios da Universidade de Chicago, dos R$ 1,274 trilhões liberados em compulsório até abril de 2020, os bancos só converteram 33,5% (R$ 427,1 bilhões) em empréstimos. A diferença de 66,5% (R$ 846,9 bilhões) foi para o caixa, a título de “manutenção de liquidez”.

Fechamento de agências e de postos de trabalho

Além da “contabilidade criativa”, os bancos também recorreram à velha e perversa “redução de custos”, que, na prática, representa fechamento de agências e demissões em massa. Entre março de 2020 e março deste ano, o Bradesco fechou 1.088 agências, o Itaú, 115, e o Santander, 140 agências e 91 Postos de Atendimento Bancário (PABs).

Já no primeiro trimestre deste ano, os bancos encerraram as atividades de 399 agências e tiraram 726 caixas eletrônicos de operação. No mesmo período, foram demitidos 2,9 mil funcionários, com destaque para escriturários e gerentes.

Dados do Banco Central mostram que, de dezembro de 2016 para cá, as instituições financeiras já fecharam as portas de mais de quatro mil agências bancárias, o equivalente a quase 20% do total que possuíam há cinco anos.

Os bancos também extinguiram 13,2 mil empregos entre março de 2020 e fevereiro de 2021, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Como Paulo Guedes alterou a metodologia do cadastro a partir de 2020, não há como comparar com períodos anteriores. Mas considerando o saldo de demissões e contratações, houve uma redução de 8.625 postos de trabalho bancário apenas nos três grandes bancos.

“Isso mostra que os bancos, apesar de terem se comprometido com o movimento sindical logo no início da pandemia, em 2020, a não demitir, descumpriram o acordo e desligaram milhares de trabalhadores e trabalhadores, em plena crise sanitária e econômica”, destaca Marta Soares, secretária de Comunicação Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região (SPBancários).

“Vamos continuar cobrando e nos mobilizando contra as demissões, até porque, apesar da crise financeira pela qual passa o país, os bancos continuam lucrando”, prossegue a dirigente.

Da Redação, com agências

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