“Eu sei o que é carregar pote de água na cabeça”, diz Lula

Para ex-presidente, transposição era para ele quase um compromisso de fé; ato ocorreu em Campina Grande, na Paraíba, uma das beneficiadas pela obra

Ricardo Stuckert

Lula em ato em Campina Grande

“Se eu pudesse, queria ser um barquinho de papel para jogar lá na captação do rio São Francisco e acompanhar a água fazer toda a trajetória para recuperar os açudes que estão secos”, afirmou o ex-presidente Lula, em Campina Grande, na Paraíba, para uma multidão que o esperava no ato Água e Democracia.

A passagem pelo município é mais uma etapa de Lula Pelo Brasil, uma iniciativa com o objetivo de perscrutar a realidade brasileira a partir do contato com quem a sente na pele dia após dia.

A região foi beneficiada pelo projeto de transposição do Rio São Francisco, que leva água do rio desde Pernambuco até a bacia do rio Paraíba. Recentemente, Campina Grande pôde abandonar o racionamento que vigorava há cinco anos.

Lula afirmou que a inauguração da transposição em Monteiro, em março deste ano, foi um dos dias mais felizes dos seus 71 anos de vida.

“Fazer a transposição do São Francisco era quase um compromisso de fé. Porque achava que não era necessário o povo morrer de sede apenas para encher as notícias da imprensa nacional”, disse o ex-presidente.

Para simbolizar a superação da seca, a juventude camponesa organizou um ato em que agricultores encenaram a trajetória da população nordestina que sai, com latas na cabeça, em busca de água no sertão. Latas que o ex-presidente carregou quando era uma criança no interior de Pernambuco.

“A seca para eles é uma estatística, e estatística não gera sensibilidade. Porque nós tínhamos sensibilidade? Eu sei o que é carregar pote de água na cabeça”, disse Lula. “Eu sei o que é beber água com caramujo. Eu sei o que é esquistossomose.”

Jovens agricultoras participam em ato em Campina Grande

Lula lembrou que, enquanto gastou R$ 9 bilhões para trazer água para milhares de nordestinos, o presidente golpista Michel Temer (PMDB) gastou R$ 14 bi para se livrar da denúncia e permanecer de forma ilegítima na presidência.

O ex-presidente também citou as 1,4 milhões de cisternas construídas no semi-árido nordestino, outro projeto implantado durante seu governo para resolver a questão da seca. As cisternas são repositórios que captam água no período chuvoso para utilização durante o período seco.

O ex-presidente também lembrou do programa Bolsa Família. “O Bolsa Família foi para que toda criança pudesse comer um pão com café com leite de manhã todo dia”, disse ele.

Lula destacou avanços do seu governo ao colocar o pobre dentro do orçamento da união. “Em 12 anos, nós criamos 22 milhões de empregos formais neste país, aumentamos salários de todas as categorias profissionais”, disse ele.

Golpe

Lula afirmou que a presidenta eleita Dilma Rousseff (PT) foi vítima da canalhice e cretinice de uma parte da elite do país “que não suportava ver uma mulher ex-presa política governar este país”.

Para ele, é a mesma gente que matou Getúlio Vargas e que caçou Jango Goulart em 1964.

“Eu sinceramente não sei como alguém que não foi eleito, que tem 97% de rejeição e não consegue fazer um ato com mais de três pessoas, consegue governar”, disse ele. “Eu fico imaginando o Temer passando no carro e cada pessoa que ele vê ele pensa: não tem ninguém que me apoia”, diz.

“Ele podia aliviar o país e devolver o mandato da Dilma que é dela, de direito, até dezembro de 2018”, afirmou.

Lula disse estar muito mais preocupado com o destino do povo brasileiro do que com o seu próprio. “Eu vejo faltar dinheiro nas escolas , nas universidades. Eu estou vendo o povo tendo redução de salário. Eu vi a noticia que o salário mínimo vai perder 10 reais. E outras coisas que eles vão cortar”, disse.

Lula reforçou a necessidade de luta e de defesa da soberania. “Temos que estar dispostos a ir para a rua sempre. Porque é com o povo na rua que podemos consertar o país”, disse.

“Eles sabem que eu talvez não saiba governar como eles, mas eu sei cuidar do povo e cuidar do povo significa tratar esse povo com carinho e respeito”, concluiu.

A suspensão do racionamento de água

Presente no ato, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, lembrou que Lula fez o mais difícil no processo da transposição do rio São Francisco, que foi romper com o atraso, e colocar o processo em andamento.

Coutinho lembrou que antes, as pessoas não existiam para o poder público. “Eu lembro da época que o nordeste não tinha uma cisterna. O desânimo era total”, afirmou.

Coutinho falou sobre o recente episódio em Campina Grande. Após cinco anos, o racionamento de água foi suspenso, o que acabou suspenso por uma juíza. Por meio de liminar, o governo conseguiu reverter e liberar novamente o fim do racionamento. “Eles querem que o povo esteja sempre precisando de algo, precisando do básico”, disse.

O vice-presidente nacional do PT e coordenador de Lula pelo Brasil, Marcio Macedo, lembrou da história das várias caravanas de Lula ao longo das décadas de 1980 e 1990.

“Fez na década de 1980, organizando o movimento sindical. Fez na década de 1990, nas caravanas da cidadania. Fez na década de 2000, quando foi o presidente mais andarilho. E faz agora de novo, para levar esperança para o nosso povo e para nossa gente. Vocês o povo de Campina tome conta do presidente Lula aqui”, disse.

Veja como foi o ato Água e Cidadania com a presença de Lula em Campina Grande (PB):

Lula participa do ato "Água e Democracia", em Campina Grande (PB)#LulaPeloBrasil #LulaPelaParaíba E acompanhe a cobertura completa da Agência PT de Notícias: bit.ly/aovivolulapelobrasil

Publicado por Partido dos Trabalhadores em Domingo, 27 de agosto de 2017

Por Mariana Zoccoli, enviada especial ao Nordeste com a caravana Lula pelo Brasil, para a Agência PT de Notícias

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