Ex-secretário de Saúde do AM confirma que Pazuello mentiu à CPI

Marcellus Campêlo avisou sobre falta de oxigênio em Manaus dias antes do que disse o general. Envio de cloroquina pode complicar Bolsonaro: “Temos um caminho para o seu indiciamento”, diz Rogério Carvalho

Foto: Agência Senado

Campêlo disse à CPI da Covid que os ofícios sobre falta de oxigênio em Manaus não foram respondidos pelo Ministério da Saúde

Com foco no estado do Amazonas, a CPI da Covid inicia a semana aprofundando as investigações sobre os responsáveis pela tragédia sanitária que já tirou a vida de quase meio milhão de brasileiros. Nesta terça-feira (15), a comissão ouviu o ex-secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo. Em seu depoimento, Campêlo desmentiu o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, confirmando que ligou para o general, no dia 7 de janeiro, para pedir apoio no transporte de oxigênio de Belém para Manaus. E  que encaminhou ofício na madrugada do dia seguinte. O ex-secretário também informou que ofícios foram enviados à pasta nos dias 9, 11, 12 e 13 de janeiro com pedidos de apoio logístico e não foram respondidos. À CPI, Pazuello alegou que só soube da crise de oxigênio no dia 10 de janeiro.

De acordo com reportagem do UOL, a pasta de Pazuello foi informada sobre os riscos de desabastecimento de oxigênio em Manaus no dia 18 de dezembro, quase um mês antes de pacientes morrerem sufocados por falta de ar.

Naquele mês, Manaus viu sua rede de saúde entrar em total colapso por falta de oxigênio. Mais de 2.200 mil pessoas morreram no estado, enquanto o governo federal insistia em defender medidas ineficazes contra a Covid-19, como o tratamento precoce. O ex-secretário confirmou os esforços da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde Mayra Pinheiro para promover a cloroquina em Manaus.

“Em 4 de janeiro, recebemos a secretária Mayra Pinheiro” disse Campêlo, referindo-se à visita da gestora, conhecida como Capitã Cloroquina, à capital amazonense. “Vimos uma ênfase da doutora Mayra Pinheiro em relação ao tratamento precoce e relatando um novo sistema que poderia ser utilizado e que seria apresentado oportunamente, o TrateCov”, declarou o ex-secretário.

O relato de Campêlo reforça indícios de que o governo Bolsonaro usou a crise no Amazonas para promover um macabro experimento, com uso de cloroquina, tendo a população como cobaia. Ao invés do enviar oxigênio e insumos necessários para salvar vidas, Bolsonaro baseou-se na teoria de que a população poderia adquirir a chamada imunidade de rebanho por meio da contaminação pelo vírus. 

“Se isso for confirmado [o uso de cloroquina], é muito grave e temos ainda um caminho para indiciamento do próprio presidente da República”,  disse o senador Rogério Carvalho (PT-SE) durante uma coletiva antes do início da oitiva. 

“Manaus foi uma espécie de experimento para o governo federal. Acreditavam que a cloroquina seria capaz de promover um tratamento precoce e diminuir o número de pessoas acometidas e de mortes”, denunciou o senador Humberto Costa (PT-PE), após ouvir Campêlo. “Os esforços para garantir o mínimo necessário para o enfrentamento à pandemia em Manaus não foram feitos”.

Ainda segundo o senador, houve um empenho de Bolsonaro e seus apoiadores para derrubar o decreto que estabelecia lockdown, e sobre o qual o governador Wilson Lima voltou atrás, no fim de dezembro. A manutenção das medidas restritivas poderia ter impedido muitas mortes.

“Ali sofreram muito mais as pessoas que vivenciaram aquela tragédia, mas o  povo brasileiro ficou horrorizado com aquele episódio”, ressaltou Humberto Costa. “Essa CPI precisa dar uma resposta tanto ao povo do Amazonas quanto à população brasileira. Manaus foi parte de um sofrimento nacional”.

Zona Franca de Manaus, porta de entrada do vírus

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) chamou a atenção para o descaso federal em relação a medidas restritivas no Amazonas e em especial em Manaus, cujo complexo industrial da Zona Franca torna a cidade uma porta de entrada do vírus da Covid-19.

Ele exibiu um vídeo no qual Mayra Pinheiro defende o tratamento precoce e reafirmou que Bolsonaro e seus apoiadores agiram como um agente de expansão do vírus, inclusive na pressão contra o decreto do governo do Amazonas para impor medidas de restrição da circulação das pessoas.

Crime contra a vida

“Estamos diante de um crime. Enquanto Manaus vivia o pico de uma segunda onda, o Ministério da Saúde estava lá para defender o tratamento precoce em substituição a todas as medidas de controle sanitário”, lembrou Carvalho, que também teceu críticas a Campêlo e ao governador Wilson Lima. 

“Ele foi conivente porque sabia de todos os riscos e voltou atrás, não teve coragem de manter a posição [sobre o decreto] porque iria desagradar o presidente e o grupo político do qual faz parte”, apontou Carvalho.

“Há um crime contra a vida porque a decisão de fazer foi deliberada. Essa CPI tem que indiciar, ou encaminhar para indiciar o principal responsável e promotor dessa pandemia. Bolsonaro deve ser indiciado por crime contra a humanidade, por crime contra o povo”, concluiu Rogério Carvalho.

Da Redação

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