Gleisi: É preciso construir a unidade das esquerdas

Em entrevista à revista ‘Fórum’, a presidenta nacional do PT defende que as legendas de esquerda construam o caminho para enfrentar os conservadores em 2022. “Somos polos alternativos de poder para o Brasil. Temos base. Nosso desafio é reconquistar a hegemonia”, aponta.

Foto: Alessandro Dantas

Gleisi Hoffmann: "a anulação das condenações é um pedido de justiça da sociedade brasileira"

A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PT), diz que, ao contrário do que aponta a velha mídia hegemônica brasileira, as esquerdas se saíram bem nas eleições municipais de 2020 e mostraram que têm base social para disputar   a Presidência da República daqui a dois anos. “O PT precisa construir a unidade e uma frente de esquerda”, disse, em entrevista à revista Fórum. Ela diz, contudo, que caberá às esquerdas avançar e ampliar as forças para a centro-esquerda a fim de fazer a disputa eleitoral em 2022. “Mas o PT, PSOL e PCdoB precisam estar alinhados”, afirma.

“O PT tem de pensar como se fortalecer e se recolocar na sociedade. Foi muito importante o [Guilherme] Boulos [candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo] ir bem”, destaca. “Ele é muito sério, muito capacitado”, observa. Para Gleisi, apesar de o PT não ter ido ao segundo turno em São Paulo, o resultado eleitoral foi muito bom para os setores progressistas. “A esquerda tem mais de 40% em São Paulo, assim como em Porto Alegre… Somos polos alternativos de poder para o Brasil. Temos base. Nosso desafio é reconquistar a hegemonia”, diz.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Resultado das eleições

A gente esperava um resultado melhor. Organizamos o partido para isso. Avaliávalos que teríamos um resultado melhor e cresceríamos. Não foi o que aconteceu. Saímos como entramos na eleição. Um pouco menos de prefeitura, um pouco menos de vereadores. O PT foi o partido que mais fez vereadores em cidades com mais de 500 mil habitantes. Nos colocou nas grandes cidades e nas periferias. Perdemos um número de prefeituras. Alguns saíram do PT e migraram de partido. Elegemos 283 e prefeituras maiores.

O PT não elegeu nenhuma capital. Em 2016 elegemos prefeito em uma capital: Rio Branco. Agora, não fizemos nenhuma capital, mas elegemos em 4 grandes cidades. Não podemos entrar no discurso derrotista e um reposicionamento para os grandes centros. Além disso, fizemos uma renovação grande. Em muitas cidades, tivemos renovação com mulheres, jovens e negros. Curitiba que é uma cidade que tem muita dificuldade com o PT, tivemos três vereadores eleitos, dois negros – uma mulher e um jovem. Isso vai dar outra dinâmica ao PT. As nossas candidaturas coletivas também foram importantes. Tem coisa boa que aconteceu nesta eleição. Queríamos mais, não foi uma vitória, mas não foi uma derrota.

Estamos tendo derrotas políticas e estratégicas desde 2013. Desde as manifestações que foram direcionadas contra o governo da Dilma, depois o impeachment, depois a prisão de Lula… Isso é processo. Não se recupera a imagem tão rápido. Tem muito chão para tirar a pecha de que o PT é uma organização criminosa e o Lula é um bandido… Melhorou um pouco, mas temos de trabalhar  muito.

O que fazer daqui para frente

Ontem, fizemos uma reunião longa do Diretório Nacional. Fizemos um balanço e soltamos uma declaração política. E os desafios que temos pela frente. A gente quer antecipar uma tática em 2022 para posicionamento político. Cobrar do governo Bolsonaro. Precisamos ter contundência na cobrança do governo.

Não há nenhuma autoridade para dizer que teremos vacina para todo. E o desemprego? E a renda? O que vai acontecer com o povo brasileiro? E ainda há as questões de saúde. A gente tem muitos problemas daqui para a frente e precisamos mobilizar a sociedade. Tem que ter povo na rua. Senão, o governo vai levando… Temos uma crise e o governo está empurrando. Precisamos alertar a população e fazer a luta.

Precisamos de esforço para encontrar um caminho de unidade. A campanha foi bonita em Porto Alegre, Belém, em São Paulo… Começamos fazer um bom combate. Temos caminhos para construir. E discutir mais em termos de projetos e menos de nomes. A construção da unidade passa pelo projeto. Precisamos parar e enfrentar essa desconstrução do Estado que o país está assistindo.

Reeleição na Câmara

Estamos discutindo isso na bancada e na Comissão Executiva do PT. Foi positiva a decisão do STF. Não pode acontecer isso, às vésperas da eleição da Mesa Diretora da Câmara, o STF ia ferir de morte a Constituição. Ruim para a Casa e para o STF. Por que não mudar a Constituição por uma PEC? Seria um casuísmo e isso custaria muito.

O parlamento é um jogo político já dado. Temos um Congresso conservador. Somos minoria. Quando há uma disputa, se dá na base de apoio do governo. Dificilmente a gente tem vitórias aqui. Ter uma candidatura do bloco de esquerda marca uma posição. Terminou a disputa, ficamos fora da Mesa e de influenciar no jogo da pauta.

O que precisamos nos perguntar: Queremos marcar posição ou influenciar na pauta da Casa? Não vamos mudar o resultado. Ou vai ser o Arthur Lira ou alguém do Rodrigo Maia…

É importante ter a presidência de uma comissão na casa. Pelo nosso tamanho, a gente teria o direito de dirigir a CCJ ou a Comissão de Finanças. Teríamos instrumento para influenciar na pauta e discutir com amplos setores da sociedade. Precisamos definir e fazer a luta de forma coordenada.

Essa coisa de tirar a reeleição [para o comando do Congresso], bagunçou o jogo. A coisa não está arredondada. Acho que dá para achar um nome que não seja da esquerda mas tenha compromisso.

Resultado em São Paulo

O que a gente pretendia em SP? Uma candidatura que entrasse forte no jogo. Era  [Fernando] Haddad que queríamos. Como ele não foi candidato, abriu-se a definição para a escolha interna, com vários candidatos dentro do PT indo para a disputa e o Tatto ganhou a indicação.

Ele sabia das dificuldades, até por não ser uma pessoa conhecida, e aí… Quando Boulos entra no processo, ele levou uma parte da militância do PT. E isso teve impacto na nossa campanha. O PT em São Paulo estava convencido que tinha de ter candidatura própria. E Jilmar fez uma campanha muito petista, de defesa do legado e do PT, de ir para a periferia… Foi fundamental o apoio dele no segundo turno e o PT entrou de corpo e alma na campanha de Boulos.

O mais importante em São Paulo foi que a esquerda foi para o segundo turno. Agora o PT tem de pensar como se fortalecer e se recolocar na sociedade. Foi muito importante o Boulos ir bem. Ele é muito sério, muito capacitado.

O resultado da esquerda foi muito bom. A esquerda tem mais de 40% em São Paulo, assim como em Porto Alegre… Somos polos alternativos de poder para o Brasil. Temos base. Nosso desafio é reconquistar a hegemonia.

Frente de esquerda

É um debate que estamos iniciando. No diretório nacional já entramos um pouco neste tema. O PT precisa construir a unidade e uma frente de esquerda. Precisaremos ampliar para a centro-esquerda para ajudar a fazer a disputa eleitoral em 2022. Mas o PT, PSOL e PCdoB precisam estar alinhados. Acho que não temos de começar por vetos a nomes.

O PT precisa ser generoso e solidário em relação à cláusula de barreira. Precisamos ajudar o PCdoB. Podemos também em relação ao PSOL. Não queremos que esses partidos de esquerda se enfraqueçam. Pelo contrário, precisamos que se fortaleçam para mostrar vigor.

A ideia das primárias é legal. Tenho simpatia, mas acho que é difícil de construir. Teríamos de trabalhar muito para chegar a uma situação desta [das primárias para as esquerdas apresentarem nomes].

As candidaturas coletivas são uma experiência muito legal. E discutem o mandato de forma coletiva. É uma dinâmica diferente e mais participativa. O PT sempre primou por isso. Mas acho que essas estruturas são importantes.

Hora de esperança e luta

Eu sei que as pessoas estão desesperançadas por causa deste governo. A história do Brasil nunca foi boa para o povo brasileiro. Todas as conquistas obtidas foram através de muita luta. Às vezes a gente perde, mas precisamos seguir em frente. Temos de lutar. É o mínimo que fazer pelo Brasil e pelo povo brasileiro.

Não podemos nos dar ao luxo de parar. Bolsonaro já esteve mais forte e não podemos desprezá-lo, mas o impulso dele caiu bastante. Cabe a nós mostrar o mal que está fazendo ao país e trabalhar apontando as mazelas deste governo. E construir um novo projeto para o Brasil. Já fizemos isso. E continuaremos a lutar pelo povo brasileiro.

 

Da Redação

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