Gleisi Hoffmann reage a nota do Clube Militar em defesa de Silveira

Para a presidenta nacional do PT, as “viúvas da ditadura” deveriam manter a entidade onde está: “na reserva e fora da vida pública”. “É hora de compromisso com o desenvolvimento e os verdadeiros interesses do país”, defendeu a deputada. Mercadante e Lindbergh também se manifestaram

Alan Marques

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A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores, deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), reagiu duramente à nota emitida pelo Clube Militar no final da tarde desta sexta (19). No documento, a entidade tentou fazer uma defesa do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), “sem entrar no mérito das palavras dirigidas aos integrantes do STF”, questionando “por que outros pronunciamentos semelhantes, porém ditos por políticos e jornalistas de centro esquerda não são tratados como crime?”

Ao tomar conhecimento da nota, na manhã deste sábado, a deputada publicou em seu perfil no Twitter o seguinte comentário: “Viúvas da ditadura se arvoram contra o STF apoiando deputado bolsonarista que fez apologia à ditadura. Em nome da democracia, o Clube Militar tem que ficar onde está, na reserva e fora da vida pública. É hora de compromisso com o desenvolvimento e os verdadeiros interesses do país”.

No início do dia, Gleisi havia anunciado a apresentação de requerimentos em duas comissões da Câmara dos Deputados convocando o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, para explicarem a pressão do então comandante, general Villas Bôas, sobre o Supremo contra o habeas corpus que libertaria Luiz Inácio Lula da Silva, quando ele liderava as pesquisas para as eleições de 2018. “A democracia foi golpeada, e já que o alto comando participou disso, precisamos saber o porquê”, afirmou a presidenta do PT.

O ex-ministro e atual presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, também respondeu à manifestação do Clube Militar. “Reafirmo que a democracia é um sistema tão flexível e generoso que até os que a negam e que a agridem cotidianamente podem se eleger presidente ou deputado. Mas as forças do atraso e do autoritarismo seguem testando seus limites, saudosos de um passado de dor, de violência e de ditadura que não pode ser reescrito e que não voltará”, afirmou Mercadante em nota oficial.

Mercadante defendeu uma resposta ampla e vigorosa a ataques sucessivos e articulados contra a democracia. “É dever de todos os democratas deste país a construção de uma ampla frente democrática, que não se confunda com os diversos projetos de poder e de país. Uma frente para combate ao fascismo e a defesa incondicional do Estado Democrático de Direito e todos os valores que ele representa”, conclamou.

O ex-senador e agora vereador pelo PT do Rio de Janeiro, Lindbergh Farias, foi outro a se manifestar sobre o texto dos chamados “generais de pijama”. “A nota do Clube Militar é uma vergonha. São as viúvas da ditadura que ainda sonham em reconstruir 1964. Mais uma afronta ao Estado Democrático de Direito!”, publicou em seu perfil no Twitter.

Conhecido reduto dos saudosos dos regimes militares no Rio de Janeiro, o Clube Militar foi fundado em junho de 1887, dois anos antes da Proclamação da República. A entidade se apresenta como uma associação de direito privado sem fins lucrativos, de caráter representativo, assistencial, social, cultural, esportivo e recreativo.

Desde então, três de seus presidentes também foram mandatários do Brasil: marechal Deodoro, marechal Hermes da Fonseca e marechal Eurico Gaspar Dutra. Em maio de 2018, Hamilton Mourão foi aclamado presidente do clube, e exerceu a função até a posse como vice-presidente. Quase 70 anos depois, um presidente do Clube Militar retornava ao alto escalão do Executivo.

A nota desta sexta, intitulada ‘O pensamento do Clube Militar’ e assinada pelo atual presidente da entidade, o general de Divisão Eduardo José Barbosa, avança também sobre o Supremo Tribunal Federal, onde “crimes cometidos por aliados ideológicos ou denúncias contra os próprios ministros do STF ficam sem investigação ou aguardando a prescrição”.

O documento também afirma que grande parcela da população teria “saudades” daquela época e que “a Democracia que temos hoje no Brasil começou em 1964”. Carrega em tons conspiratórios questionando por que os equipamentos de Adelio Bispo de Oliveira e seus aliados não seriam periciados. Finalmente, pergunta se a prisão de Daniel Silveira não ocorreu apenas por ele ser apoiador de Jair Bolsonaro.

Da Redação

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