Golpismo da direita estava adormecido, afirma Valter Pomar

Para cientista político da Universidade Federal do ABC, a direita não vê legitimidade na escolha do povo e desconfia da democracia

17/04/2016- Brasília- DF, Brasil- Sessão especial para votação do parecer do dep. Jovair Arantes (PTB-GO), aprovado em comissão especial, que recomenda a abertura do processo de impeachment da presidente da República. Na foto, Foto: Antonio Augusto/ Câmara dos Deputados

As direitas têm profunda desconfiança da democracia e não veem legitimidade nas decisões tomadas pelo povo brasileiro por meio do voto popular. A afirmação foi feita pelo cientista político Valter Pomar, da Universidade Federal do ABC, durante debate “As Direitas e o Golpe no Brasil”, organizado pela Fundação Perseu Abramo, nesta sexta-feira (29).

Para o professor, o veio golpista das elites estava adormecido, mas foi reativado com a crise internacional. “A direita brasileira tem uma disposição democrática que é estritamente passageira”, afirmou.

Para o cientista político Sebastião Velasco e Cruz, o golpe é um processo e ainda pode ser impedido. “O golpe é um processo. Ainda faz sentido dizer “Não vai ter golpe”. Esse golpe não vai acontecer, temos que derrotá-lo”, enfatizou.

Segundo Pomar, seis setores estão alinhados nessa tentativa de golpe em curso no Brasil: parte do aparato de Estado, que inclui Ministério Público, Polícia Federal  e parte da alta burocracia; partidos de direita, como o PMDB e o PSDB; setores da direita fascista que apoiam candidatos como Jair Bolsonaro; associações empresariais e o oligopólio midiático.

A estratégia de um governo pós-golpe, acredita ele, seria a revogação dos aspectos positivos da Constituição de 1988, conhecida como a Constituição cidadã, e da CLT. “O modo normal do capitalismo brasileiro envolve a exploração da classe trabalhadora”, disse.

Debatedores em mesa redonda organizada pela Fundação Perseu Abramo

Debatedores em mesa redonda organizada pela Fundação Perseu Abramo

Por isso, segundo ele, é essencial que a esquerda esteja conectada com a classe trabalhadora. “Não podemos subestimar a força que a esquerda demonstrou ter”, afirmou em relação às recentes manifestações contra o golpe quase diárias, algumas com centenas de milhares de pessoas. Para Pomar, existe um clima de combate e não de desmoralização e cada vez mais a juventude e a classe trabalhadora se dão conta do que está acontecendo.

A jornalista Laura Capriglione, do Jornalistas Livres, defende ser necessário entrecruzar redes, isto é, fazer com que a comunicação circule entre vários grupos diferentes da esquerda . “Tem uma disputa grande e transversal que pega todos os setores sociais”.

Capriglione afirmou que uma das dificuldades da comunicação de esquerda é se contrapor aos inúmeros boatos que a direita veicula no Whatsapp, por exemplo. Coisas totalmente mentirosas e absurdas como que o PCC é um braço armado do PT, ou que o PT teria trazido 50 mil haitianos para a última votação circulam por mensagens como se fossem verdadeiras, e acabam atingindo pessoas desinformadas.


Estados Unidos
Para Pomar, os Estados Unidos teriam interferido no processo brasileiro ao tentar desestabilizar a Petrobras. Em 2014, Edward Snowden divulgou que a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos estava espionando ilegalmente a Petrobras. Um ano depois, a mídia nacional divulgava uma investigação profunda sobre a empresa, que fez o preço de suas ações despencarem. Segundo Pomar, o golpe no Brasil envolve o realinhamento do grande capital com os interesses dos Estados Unidos.

Por Clara Roman, da Agência PT de Notícias

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