Governo Bolsonaro cobrou propina para comprar vacina, diz empresário

Empresário contou a jornal ter sido informado de que só venderia a vacina se aumentasse o preço da dose em US$ 1. Proposta de corrupção ocorreu em jantar com um diretor do Ministério da Saúde, um militar do Exército e outro empresário

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Governo envolvido em corrupção

São cada vez mais fortes os indícios de que as vacinas contra a Covid-19 se transformaram em ferramenta de um grande esquema de corrupção no Ministério da Saúde gerido pelo general Eduardo Pazuello. Em matéria publicada pela Folha de S. Paulo na noite desta terça-feira (29), o empresário Luiz Paulo Dominguetti Pereira conta que recebeu pedido de propina ao tentar vender doses da AstraZeneca ao governo Bolsonaro.

Dominguetti é representante da empresa Davati Medical Supply. Segundo ele disse ao jornal, na noite de 25 de fevereiro, jantou em um restaurante a poucos quilômetros da Esplanada dos Ministérios com o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, e outras duas pessoas: “um militar do Exército e um empresário lá de Brasília”, segundo seu relato.

Ao fazer a oferta de 400 milhões de doses a U$ 3,50 cada, Dominguetti ouviu de Roberto Dias que, para negociar com o governo teria que “compor com o grupo”. E a forma de “compor” seria aumentar US$ 1 no preço de cada dose. O governo compraria então 200 milhões de doses, o que daria um desvio de US$ 200 milhões, ou algo perto de R$ 1 bilhão.

“Ele (Dias) me disse que não avançava dentro do ministério se a gente não compusesse com o grupo, que existe um grupo que só trabalhava dentro do ministério, se a gente conseguisse algo a mais tinha que majorar o valor da vacina, que a vacina teria que ter um valor diferente do que a proposta que a gente estava propondo”, diz o empresário à Folha.

​”Aí eu falei que não tinha como, não fazia, mesmo porque a vacina vinha lá de fora e que eles não faziam, não operavam daquela forma. Ele me disse: ‘Pensa direitinho, se você quiser vender vacina no ministério tem que ser dessa forma'”, prosseguiu. “E, olha, foi uma coisa estranha porque não estava só eu, estavam ele [Dias] e mais dois. Era um militar do Exército e um empresário lá de Brasília”, completou Dominguetti, que mencionou também encontro no ministério com o coronel Elcio Franco, ex-secretário executivo da pasta.

A Folha ressalta que Dias foi indicado para o cargo no ministério pelo líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR). Tanto Barros quando Elcio Franco foram implicados no escândalo da Covaxin pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF). Após a publicação da reportagem no site do jornal, o governo Bolsonaro anunciou a a exoneração de Roberto Dias.

CPI deve ouvir empresário na sexta-feira

Parlamentares e membros da CPI da Covid reagiram imediatamente. “A denúncia é gravíssima. É o terceiro escândalo de corrupção relacionado com a compra de vacinas. Os senadores do PT na CPI já pediram a convocação dos denunciantes para prestarem depoimento na condição de testemunha”, disse o líder do Partido dos Trabalhadores no Senado, Paulo Rocha (PT-PA), referindo-se às suspeitas que giram em torno da indiana Covaxin e da chinesa Convidecia.

“A CPI vai apurar tudo e os responsáveis serão punidos! Está ficando cada vez mais nítido o ESQUEMA DE CORRUPÇÃO por trás de tudo isso. Estão entendendo por que Bolsonaro já afirmou que não sabe de nada?”, afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE), membro titular da comissão parlamentar de inquérito.

Um pedido de convocação de Dominguetti foi apresentado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e confirmado pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). “Denúncia forte. Vamos convocar o senhor Luiz Paulo Dominguetti Pereira para depor na próxima sexta-feira”, anunciou Aziz no Twitter.

Da Redação

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