Juliana Cardoso: Mulheres que fiscalizam o SUS sofrem agressões

” São atitudes incompatíveis com o que preconiza a política pública do Sistema Único de Saúde (SUS) e o caráter democrático do controle social”

Reprodução/Facebook

Vereadora pelo PT-SP Juliana Cardoso

Fenômeno bastante presente no cotidiano, o Brasil exibe índices vergonhosos de casos de violência contra as mulheres. As agressões assumem diferentes formas e desqualificam ou impedem a atuação política das mulheres, mas também estão evidentes no ambiente doméstico e de trabalho.

De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no ano passado 193 mulheres registraram queixas de violência doméstica. Uma média de 530 mulheres acionaram a Lei Maria da Penha por dia, ou 22 por hora. São dados assustadores. Eles mostram que estamos longe do respeito à igualdade de gênero.

O assassinato da vereadora Marielle Franco expôs o grau de letalidade e misoginia contra as mulheres na política. A presidenta Dilma Rousseff, primeira mulher eleita para o cargo em mais de 150 anos de República, sofreu ataques virulentos e machistas até ser deposta pelo golpe em 2016.

A violência de gênero procura reforçar o pensamento de que a política não é espaço para as mulheres. Atitudes constrangedoras lembram que em inúmeras situações as mulheres não são bem-vindas.

Em São Paulo, cidade economicamente mais importante do país, dois episódios recentes de violência no ambiente de trabalho – equipamentos públicos de saúde – chamaram a atenção. Nos dois casos, mulheres sofreram ataques de gestores por suas atuações. Os dois casos se caracterizaram por tentativas de deslegitimação da luta das mulheres por diretos sociais.

Mulheres vítimas da deslegitimação machista

Flávia Anunciação, auxiliar de enfermagem do Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM) e dirigente sindical, além de ser impedida de participar de reunião que decidia sobre a retirada de beneficio de trabalhadores dos setores de Raio-X e coleta local, sofreu agressão física por parte do superintendente no dia 5 de abril.

Fermina Silva Lopes e Rosane Aparecida Bonfim Micheletto, em visita ao Hospital Tide Setúbal, zona leste da cidade, as conselheiras gestoras foram recebidas com atitudes ofensivas do diretor técnico que as mandou “procurar um tanque de roupas sujas para lavar”.

Para os dois episódios foram registrados boletins de ocorrência (BO). A Comissão de Saúde da Câmara Municipal de São Paulo aprovou requerimento, apresentado pelo nosso mandato, pedindo informações sobre os procedimentos adotados e os processos administrativos.

No caso do HSPM, alvo de denúncias na imprensa pelas péssimas condições em vários setores , incluindo o Serviço de Nutrição e Dietética, o superintendente acabou exonerado no último dia 13 abril.

Essas ocorrências, longe de serem problemas pontuais, evidenciam que a desqualificação da atuação das mulheres se tornou regra e não exceção, sobretudo nessa conjuntura política nacional contaminada por ódio. São atitudes incompatíveis com o que preconiza a política pública do Sistema Único de Saúde (SUS) e o caráter democrático do controle social.

O que fazer?

Mas cabe uma questão: como reverter essas estatísticas de violência? Os agressores têm que efetivamente sofrer punição. Entretanto, a punição por si só não basta. Fosse assim, não teríamos a terceira maior população carcerária do mundo. O caminho, para superarmos os comportamentos machistas, é educacional.

Nas escolas do Brasil, o ensino deve reforçar o respeito à igualdade de gênero, como princípio e prática de atitude pedagógica. E que alcancem a desejada civilidade nas relações de trabalho e dos serviços públicos.

Juliana Cardoso é vereadora (PT-SP), membro das Comissões de Saúde e Direitos Humanos e vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente da Câmara Municipal de São Paulo.

*Artigo publicado originalmente no site Saúde Popular

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