Karol Cavalcante: Golpe perde apoio entre os moradores de Belém

A socióloga e secretária geral do PT no Pará analisa momento político e mostra que os belenenses estão cada vez mais contrários ao impeachment de Dilma

(Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)

Por Karol Cavalcante

No próximo domingo (17), a Câmara dos Deputados deve votar o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Estamos diante de um julgamento político no qual uma presidenta eleita democraticamente nas urnas com 54.501.118 de votos poderá ter seu mandato cassado sem nenhuma base legal. Os parlamentares que participarão da votação decidirão se interrompem o ciclo democrático em curso no País ou não. Caso o impeachment seja aprovado, teremos as regras institucionais quebradas e certamente entraremos em um ciclo  “perigoso” no Brasil, em consequência da fragilização das instituições.

Frente a polarização em todos os lugares, o assunto virou tema recorrente e entrou na rotina dos brasileiros. Manifestações contrárias e favoráveis têm se intensificado por todo o País. Para medir a opinião dos brasileiros, diversas pesquisas vêm sendo realizadas. Há 30 dias, os favoráveis ao impeachment chegavam aos 68%, segundo o instituto Data Folha. Ao que parece, a polarização entre os favoráveis e os contrários ao governo da presidenta Dilma tem mudado este cenário.

Pesquisa realizada pelo laboratório de ciência política da Universidade Federal do Pará, coordenado pelo professor doutor Edir Veiga, revela que a tentativa de golpe em curso no País vem perdendo apoio na população da capital paraense. Realizada entre os dias 30 e 31 de março, com 751 questionários aplicados em diversos bairros de Belém e com margem de erro de 4% para mais ou para menos, a pesquisa tem intervalo de confiança de 95%.

Karol Cavalcante

Perguntados em relação ao pedido de impeachment da presidenta Dilma, 58% disseram ser a favor, 31% se declararam contrários ao impedimento da presidenta e 10.2% não sabem ou não responderam. Contrários e indecisos chegam a 42% dos belenenses. No Brasil, o apoio ao impeachment da presidenta já chegou até 68%. Fica evidente que o golpe vem perdendo apoio. Entre os favoráveis, a pesquisa revela que a maioria tem entre 35 a 44 anos, já os contrários são em sua maioria um publico mais jovem com faixa etária entre 21 a 24 anos, 39.4%.

Quanto a renda, a pesquisa revela que a ampla maioria que deseja o impeachment da presidenta é de classe media alta. 65.2% dos pesquisados revelam ganhar acima de R$ 4.401,00. Já entre os apoiadores da presidenta a maioria se divide entre os que ganham até R$ 880,00 reais, 32.0% e que ganham acima de R$ 1.761,00, 37.4%.

“Movimentos liderados por professores, juristas, artistas e intelectuais vêm se difundindo na sociedade paraense, enquanto as manifestações de direita se resumiram a discretas inciativas sem grande adesão de público”

Em Belém, as manifestações dos favoráveis ao impeachment apresentam um certo recuo e os atos organizados pelos partidos de esquerda e centrais sindicais vem ganhando força. Movimentos liderados por professores, juristas, artistas e intelectuais vêm se difundindo na sociedade paraense, enquanto as manifestações de direita se resumiram a discretas inciativas sem grande adesão de público, o que indicaria um refluxo do movimento.

Esse cenário, ao que parece, também reflete na mudança de posição da bancada federal do Pará na Câmara dos Deputados. Segundo dados do Movimento Vem pra Rua (movimento liderado pelos chamados coxinhas), inicialmente dos 17 deputados paraenses, 6 eram contrários, 7 favoráveis e 4 indecisos. Com a proximidade do dia da votação, os indecisos começam a se definir e os atuais números indicam que a bancada paraense deve votar 9 contrários ao golpe e 6 favoráveis. Há ainda dois indecisos com forte tendência ao voto contrário ao impeachment.

Caso essa tendência se mantenha, por outros estados, o golpe em curso deverá ser barrado. Caberá ao governo Dilma governar com a sua nova base de apoio no Congresso, afastando-se de vez das medidas de austeridade, e reaver a agenda de governo que foi referendada nas urnas, pautada em mais direitos sociais e na retomada do crescimento econômico. Em suma: implementar o programa eleito em 2014.

Karol Cavalcante é socióloga, secretária geral do PT do Pará e especialista em Gestão Estratégica em Políticas Públicas pela Unicamp. Atualmente, é estudante do mestrado em ciência política da UFPA

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