Luta agora é para ampliar votos pelo impeachment

Lula, Dilma e Gleisi defendem afastamento de Bolsonaro, cujos crimes são denunciados também pelos movimentos sociais e organizações da sociedade civil. A oposição quer ampliar frente para tirar o país da crise política, econômica, social e sanitária e o PT quer eleições diretas para presidente em caso de vacância

Lula Marques

Impeachment: necessário e urgente

O pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, apresentado na quinta-feira, 22, por 400 organizações da sociedade civil, juristas, como Celso Bandeira de Mello, e partidos de oposição – PT, PCdoB, PSOL, PSTU, PCB, PCO e UP – ainda precisa ser aceito pelo presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), mas a luta para arregimentar apoios se intensificará nos próximos dias. A avaliação é da presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), que trabalha ainda para angariar votos e apoio à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que prevê eleições diretas em 90 dias, em caso de vacância na Presidência da República.

“A saída do impeachment não pode ser o [vice Hamilton] Mourão, por esse fator: ficar na Presidência um general”, disse a deputada em entrevista ao jornal ‘Valor Econômico’. Ela avalia que o país só atravessará a crise sanitária e política em condições de promover um ambiente para a reconstrução nacional do Brasil depois que Bolsonaro for afastado do cargo. “A impeachment é a última trincheira constitucional possível. Ela considera “impossível uma saída sustentada da crise” enquanto o presidente estiver governando o Brasil, pela sua incapacidade de liderar o país, preservar vidas e obedecer a lei.

A mesma avaliação têm os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Na edição de ‘Carta Capital’, que começa a circular neste final de semana e traz na capa o impeachment de Jair Bolsonaro, os dois líderes políticos também consideram que o afastamento do presidente do cargo é condição fundamental para restabelecer um caminho seguro para a crise econômica e sanitária provocadas pelo Covid-19. “Eu acredito no impeachment. Acredito porque há situações que podem se transformar em crimes de responsabilidade. O que ele está fazendo com o coronavírus é um genocídio”, ressaltou Lula.

Consenso. Dilma, Lula, Gleisi e Boulos, ao lado do ex-prefeito Luiz Marinho e de João Paulo Rodrigues, do MST, apoiam o impeachment do presidente Jair Bolsonaro

Riscos

“Diante da pandemia, [Bolsonaro] não só descumpre e combate as recomendações das autoridades sanitárias nacionais e internacionais, e despreza acintosamente o isolamento social, como também se opõe a qualquer forma de distanciamento, agravando os riscos no enfrentamento da Covid-19”, critica Dilma. “Nesse sentido, seu comportamento desnuda um elenco de abusos e crimes, incluídos os de responsabilidade, o que permite a abertura de um processo de impeachment”.

Lula diz que a consolidação do processo democrático é difícil no país. “O Brasil não está acostumado à democracia, vira e mexe, a cada 20 ou 30 anos sofre um golpe”, lamenta. A ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB) avalia que a hora é de lutar pela construção do consenso em torno do afastamento do presidente pelas regras constitucionais. “O impeachment tem de ser fruto da construção de um novo pacto”, aponta. “Quanto mais unitária a peça, mais diálogo estabeleceremos com a sociedade. Temos de usar as ferramentas disponíveis”.

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) diz que é preciso conquistar votos para o impeachment nas fileiras do Centrão. “Não tenho a menor dúvida de que Bolsonaro cometeu crimes de responsabilidade e acredito que ele merece passar pelo impeachment. Mas precisamos de voto e quem tem o Centrão hoje é o Bolsonaro. Ele tem 200 votos do Centrão. Se não reduzirmos o apoio popular e não avançarmos provocando rachas no Centrão, não tem impeachment, o presidente continuará cometendo quantos crimes quiser”, destaca.

O ex-governador e ex-senador Roberto Requião (PMDB-PR) defende a construção de uma frente ampla para viabilizar e garantir uma saída soberana para a crise. “Não podemos ter temeridade além da suportável, mas muito menos a covardia de não avançar. Temos de ter um projeto. Eu me situo numa frente popular democrática. Ampla. Mas não tão ampla que incorpore, por exemplo, o Rodrigo Maia, onde o Meirelles, o Joaquim Levy e o Guedes estariam à frente”, explica.

 

  

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