Marcos Tolentino, amigo de Barros, é sócio oculto de banco fake, diz CPI

FIB Bank, empresa com capital de R$ 7,5 bi deu garantia de R$ 80 milhões para a Precisa fechar venda da Covaxin à Saúde. Roberto Ramos não explicou movimentações suspeitas nem 28 processos na justiça

O deputado federal e líder do governo Bolsonaro na Câmara Ricardo Barros bem que tenta esquecer da CPI da Covid mas, semanalmente, seu nome continua a ricochetear com cada vez mais intensidade pelas paredes do Plenário da comissão. Nesta quarta-feira (25), os senadores identificaram o advogado Marcos Tolentino, amigo do deputado, como sócio oculto da FIB Bank, empresa que ofereceria garantia de R$ 80 milhões para a Precisa fechar a venda de vacinas da Covaxin ao Ministério da Saúde. O diretor da empresa Roberto Pereira Ramos Júnior não convenceu senadores da legalidade das atividades da FIB Bank.

Aos senadores, Ramos Júnior informou que o capital social da empresa é de inacreditáveis R$ 7,5 bilhões, advindos de dois imóveis, um em São Paulo e outro em Castro, no Paraná. Mas não soube explicar a origem dos recursos nem apresentou documentos provando os valores dos imóveis. Um dos imóveis, sozinho, valeria R$ 7,2 bilhões.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) chamou a atenção para a mudança de endereço de um dos imóveis. “Um imóvel era no valor de R$ 7,2 bilhões e não estava em São Paulo, estava em Curitiba. Um imóvel voador que saiu de São Paulo e foi para Curitiba”, ironizou a senadora. “A pergunta que tem que ser respondida é por que o Ministério da Saúde aceitou uma garantia que não é bancária se a lei e a medida provisória não permitiam e fora do prazo permitido”.

“Como o senhor é presidente de um banco que tem um terreno, o grande patrimônio que o banco tem, foi incorporado como capital social da empresa e o senhor nunca foi lá?”, perguntou o senador Humberto Costa (PT-PE). “Não teve a curiosidade de saber que é um terreno que é 10% da cidade de Curitiba? Como pode? O cartório onde o terreno está registrado não existe”, anunciou.   

Irregularidades

Os senadores descobriram uma série de irregularidades no funcionamento da empresa que, apesar do nome, não é um banco nem possui autorização do Banco Central para atuar como tal. Dois integrantes da MP Guaçu, que faz parte do quadro societário, por exemplo, faleceram mas seus nomes foram usados pela empresa após os óbitos. Outro sócio, Geraldo Rodrigues, um vendedor de Alagoas, teve um áudio reproduzido na oitiva onde explica que teve o nome falsificado e luta para provar que não tem nada a ver com a empreitada.

Humberto Costa responsabilizou o Ministério da Saúde por ter aceitado tratar com uma empresa sem verificar suas credenciais. Ela está envolvida, de acordo com o senador Rogério Carvalho (PT-SE), em 28 processos na justiça por não cumprir garantias. Pela carta fiança para a negociação da Covaxin, a Precisa pagou R$ 350 mil à FIB Bank.

O petista lembrou que a Medida Provisória que definiu recursos para vacina apontava a necessidade de garantias, prontamente ignoradas pelo Ministério da Saúde. 

Tolentino

À medida que a oitiva avançava, as digitais de Ricardo Barros e seu amigo Marcos Tolentino foram ficando mais nítidas aos parlamentares. À CPI, Ramos disse que Tolentino é advogado de Ricardo Benetti e procurador da empresa sócia do FIB Bank, a Pico do Juazeiro.

“O senhor acaba de confirmar e mostrar que o senhor Marcos Tolentino foi apontado pelo FIB Bank, pelas empresas Pico do Juazeiro e MB Guaçu como representante, procurador ou administrador dessas empresas, cujos imóveis que compõem o capital social pertencem às empresas de Marcos Tolentino”, apontou o relator Renan Calheiros (MDB-AL).

“A Ricardo Benetti Consultoria e a FIB Bank têm Tolentino como cabeça. Já mostramos que o cabeça é o Tolentino, amigão de Barros, o facilitador oficial das intermediações trambiqueiras na compra de vacinas do Bolsonaro”, denunciou Rogério Carvalho.

Movimentações suspeitas

Os parlamentares também estranharam o fato de Ramos, sendo diretor da FIB Bank, não saber informações como movimentações, tampouco datas de contratos e até o endereço da sede.  “Entre junho de 2020 e maio de 2021 o FIB Bank fez 19 transferências bancárias em um total de R$ 1,9 milhão para a Brasil Brasil Space Air Conservação Aérea, que pertence à família Tolentino”, disse o senador Humberto Carvalho, que quis saber o porquê das movimentações.

O depoente não soube explicar o motivo. “Como é que pode? O senhor é presidente do banco e não sabe quem fez as transferências? Mais uma vez, quem é o dono desse banco?” insistiu.

“Na verdade, tudo isso aí deve ser feito por duas pessoas: esse Benetti e Tolentino. Esses são os donos desse banco aí. E o senhor está respondendo legalmente por uma coisa que, sinceramente, não faz nenhum sentido”, discursou o senador.

“O senhor parece um laranja do senhor Marcos Tolentino. Por que o senhor não sabe responder questões sobre as relações que a empresa tem com parceiros comerciais. O tempo todo o senhor tenta mostrar fatos que a CPI já desmascarou”, argumentou Rogério Carvalho.

Empresa fantasma

Carvalho também questionou o fato de o telefone da FIB Bank ser o mesmo da Benetti Associados, que tem Marcos Tolentino na Presidência do Conselho.

“Uma empresa com R$ 10 bilhões de fundo, não tem endereço próprio, usa o telefone do advogado… É uma empresa fantasma, não existe, os sócios já morreram, o dono do terreno é uma terceira pessoa. O criador da empresa é uma pessoa de Alagoas, que tenta sair do quadro societário”, apontou Rogério Carvalho.

“Estamos diante de uma situação que é a cara do governo Bolsonaro. Tudo é feito, sem cuidado, sem qualquer preocupação com a coisa pública, feita por pessoas sem idoneidade”, exclamou Costa. 

Site da FIB Bank

O senador apresentou instruções para um site que seria feito para o FIB Bank. Segundo as recomendações, o portal da empresa deveria conter menções ao Banco Central e ao Banco Safra para passar ideia de credibilidade. O pedido para o site incluía ainda a inserção de imagens de moedas e jatos, além de horários de vários países, “tudo para criar uma aura de multinacional, de solidez de uma empresa de largo lastro”.

“O que não tinha no site? Documentos contábeis, modelos de contrato, regulamentos, links de conselhos regionais de contabilidade, ambiente fiscal, trabalhista e previdenciário, nem imagens dos donos ou qualquer menção a conteúdo jurídico”, identificou o senador.

180 mil mortos em 120 dias de CPI

O senador Renan Calheiros lembrou os 120 dias de atividade da CPI da Covid e lamentou o número de mortos no período por causa da doença: 180.505 vidas perdidas, mais de 1.500 brasileiros por dia, em média.

“Nós estamos correndo contra o tempo para dar as respostas necessárias à sociedade”, enfatizou Calheiros, lembrando que, graças ao trabalho da CPI, “o governo foi obrigado a mudar de conduta”.

Da Redação

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