Marina ignora religiões de matriz africana e quer fim das cotas para negros

Afirmações constam do programa de governo apresentado pela candidata

O programa de governo da candidata à Presidência Marina Silva (PSB) é evasivo ao tratar temas de interesse da comunidade afro-brasileira, como políticas afirmativas de promoção da igualdade racial e o respeito às religiões de matriz africana. Em um dos trechos mais polêmicos, a candidata prevê o fim das cotas para negros, considerado por ela como uma “medida emergencial e temporária”.

Nenhuma proposta concreta é apresentada no documento para promover o respeito às religiões de matriz africana. O programa da candidata se limita a defender o combate às “atitudes desrespeitosas”.

“Nunca contamos com ela na aprovação de políticas de promoção de igualdade racial”. Paulino Cardoso

Marina tem em sua rede de apoio líderes políticos e religiosos com posicionamento público contrário às religiões afrodescendentes, que já defenderam, inclusive, o fechamento de terreiros, por exemplo, como já declarou seu aliado, o deputado federal Marcos Feliciano (PSC).

Para o professor-doutor Paulino Cardoso, presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), as alianças da candidata podem comprometer sua postura em relação à tolerância religiosa. “Como um candidato comprometido com o fundamentalismo cristão poderá preservar o respeito aos princípios republicanos e laicos de gestão do Estado?”, questiona.

Ele avalia, ainda, que tanto as alianças de Marina , quanto as de Aécio Neves (PSDB), mostram como os candidatos estão na contramão de políticas de promoção de igualdade racial.

“Um representa as oligarquias estabelecidas e a outra o fundamentalismo cristão. Ambos trazem caminhos como a redução do Estado, que pela nossa experiência precisa ser profundamente atuante de modo a atacar as desigualdades”, pontuou.

Cotas – Outro ponto do programa de governo de Marina que requere atenção é o tratamento dado às políticas de cotas. O texto faz uma breve menção de como o seu eventual governo poderá tratar o tema, classificando a medida como “temporária”.

“Reafirmar a importância das cotas para a população negra brasileira, como medida temporária, emergencial e reparatória da dívida histórica, com data prevista para terminar”, diz o texto.

A posição de Marina sobre as ações afirmativas evidencia o seu desconhecimento sobre as desigualdades raciais no Brasil. “Acreditar que em dez anos você pode alterar 500 anos de dominação branca é de uma ignorância ofensiva as populações negras do Brasil”, afirma o pesquisador.

Atualmente, apenas 37% dos jovens negros ou pardos, de 18 a 24 anos, frequentam cursos de nível superior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Importante frente de combate à discriminação racial, o ensino obrigatório de história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas, públicas e particulares de todo o país, foi instituído pela Lei 11.645 de 2008.

Sobre isto, o programa de Marina se restringe a garantir a aplicação do artigo e propõe a atualização dos professores responsáveis por essas disciplinas.

Sem vínculo – Única candidata negra na corrida à presidência da República, Marina não consegue convencer a militância. “Minha bisavó era de origem germânica, mas isso não basta para que eu me reconheça um alemão e vá brincar na Oktoberfest de Blumenau”, comparou Cardoso.

O pesquisador afirma que as constantes referências de Marina à sua cor e origem não são suficientes para que a população afro-brasileira se sinta abrangida pelas propostas da candidata.

“Consideramos louvável as declarações, mas nunca contamos com ela na aprovação de políticas de promoção de igualdade racial”, lembrou.

 

Por Flávia Umpierre, da Agência PT de Notícias

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