Moro agora quer se livrar da responsabilidade pelo desastre de Bolsonaro

Os movimentos midiáticos do ex-comandante da Lava Jato fazem parte de um jogo que tenta afastá-lo da responsabilidade pelo resultado eleitoral de 2018 e as consequências atuais das suas ações no comando da Lava Jato

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Moro e Bolsonaro, parceria no desastre nacional

Travestido em sua nova identidade, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro está em campanha para tentar se desvencilhar da sua ligação com o atual governo e se reposicionar no mercado político. Em entrevista para o jornal ‘Folha de S. Paulo’, já mostrando serviço, ele investe na comparação de Bolsonaro com o ex-presidente Lula, tática do momento de quem o acolheu nesses últimos anos. Na entrevista, Moro também afirma que “transparência e rumo são fundamentais, especialmente em cenário de crise”.

A sua história pregressa, no entanto, no comando da Lava Jato, aponta para uma postura oposta, como atestam a grande maioria dos juristas do país e do exterior. Sem constrangimentos, o ex-juíz cobra autocrítica de Lula e do PT por “erros cometidos”, enquanto, questionado pelo repórter sobre erros de sua parte responde: “Se você tiver um exemplo específico …”.

Em outro ponto da entrevista, argumenta que suas posições “sempre foram muito favoráveis à democracia e ao Estado de Direito, e assim tenho me manifestado publicamente”. Também diz ver com “naturalidade” os manifestos políticos divulgados na semana passada, “como reação às declarações que não têm sido felizes por parte do presidente, esses arroubos autoritários”.

Os movimentos midiáticos do ex-comandante da Lava Jato fazem parte de um jogo para afastá-lo da responsabilidade pelo resultado eleitoral de 2018 e as consequências atuais da sua ação. O seu papel no processo eleitoral nas eleições de 2018 é visto como decisivo para assegurar a vitória de Jair Bolsonaro, de quem busca se distanciar. Com a eleição de Bolsonaro, o ex-juiz da operação Lava Jato passou a ocupar a função de Ministro da Justiça, demitido depois por aquele a quem prestou serviços.

A operação Lava Jato, entre outros males causados ao Brasil, foi fundamental para afastar o presidente Lula das eleições, pavimentando o caminho para a vitória de Bolsonaro, como definiu o próprio ex-presidente. Também está na sua conta o vazamento ilegal de escutas telefônicas entre os ex-presidentes Lula e Dilma, em 2016, que aceleraram o processo de impeachment.

“Bolsonaro é filho do Moro”

“Não pode haver inversão da história. O Bolsonaro é filho do Moro, e não o Moro cria do Bolsonaro”, afirmou categoriamente o ex-presidente Lula, em seu perfil de Twitter, em 25 de abril deste ano. “Nessa disputa toda, os dois são bandidos, mas é o Bolsonaro que é a cria e não o contrário. E os dois são filhos das mentiras inventadas pela Globo”, afirmou Lula.

Afastar Lula das eleições, por meio de condenação sem provas, apenas por “fatos indeterminados”, não foi a única iniciativa da operação Lava Jato e de seu indevido comandante. No segundo turno das eleições, atuaram politicamente para impedir a realização de uma entrevista de Lula à ‘Folha de S. Paulo’, autorizada pelo ministro do STF, Ricardo Lewandowski.

De acordo com o site ‘The Intercept Brasil’ (TIB), os procuradores “tramaram para impedir que o PT ganhasse a eleição presidencial de 2018, bloqueando ou enfraquecendo uma entrevista pré-eleitoral com Lula com o objetivo explícito de afetar o resultado da eleição”. Também segundo ‘TIB’, as conversas deixaram claro que “o objetivo principal era impedir o retorno do PT à presidência”.

“Um clima de revolta e pânico se espalhou entre os procuradores”, assim descreveu o site, com base em chats de conversas. “Sei lá…mas uma coletiva antes do segundo turno pode eleger o Haddad”, chegou a dizer um dos procuradores citados na matéria, identificado como Tessler.

Nesta segunda-feira, outro ex-integrante da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima, reconheceu a promíscua relação política da Lava Jato com o atual governo. “Pessoalmente eu manifestei a ele (Moro) minha dúvida sobre se seria uma decisão correta (participar do governo Bolsonaro)”, disse em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, no domingo, 7.

“Eu vejo que, num certo momento, ela (decisão de Moro) custou muito caro para a Lava Jato, obviamente, como movimento, porque contaminou uma discussão política desnecessária”, argumenta. Historicamente ligado a Sérgio Moro, Carlos Fernando tenta fazer o mesmo movimento de se posicionar como “oposição” ao presidente que ele e Moro ajudaram a eleger.

Ataque ao Brasil

O papel de Sérgio Moro na história recente do país, no entanto, vai além dos prejuízos causados à democracia. Além de afastar Lula do cenário político, a operação Lava Jato comprometeu irresponsavelmente a indústria nacional – em especial a construção civil e o setor de petróleo, abrindo o mercado nacional para as empresas estrangeiras.

Em entrevista ao portal UOL, ainda na prisão, Lula advertiu que a Lava Jato “destruiu a indústria da construção civil no Brasil” e deu “prejuízo de R$ 142 bilhões na economia brasileira”. O que é uma verdade comprovada pelos indicadores oficiais, em especial na taxa de desemprego do país, atual tragédia nacional.

Quando iniciaram as fases da Operação Lava Jato, em 2104, o Brasil detinha a menor taxa de desemprego da história, 4,3%. No final de 2019, o Brasil passou a contar com 7,2% dos desempregados de todo o planeta. Com Bolsonaro no poder e Paulo Guedes, no Ministério da Economia, o país foi empurrado definitivamente para o abismo.

Da Redação

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