Mulheres precisam tomar o poder interno do PT, afirma Laisy

Seminário organizado pela Secretaria Nacional de Mulheres do PT reuniu mulheres petistas de todo País para discutir participação feminina na política

Lula Marques/Agência PT

Seminário Mulher e participação na política: desafios e perspectivas

As mulheres têm que tomar o poder interno do PT. Este é o próximo desafio apontado pela secretária Nacional de Mulheres do PT, Laisy Moriére, durante o Seminário “Mulher e participação na política: desafios e perspectivas”, realizado nesta quarta-feira (31), em Brasília.

A secretária afirmou que o Partido dos Trabalhadores está terminando um ciclo com a primeira direção paritária entre mulheres e homens no PT. Neste sentido, o seminário, que reuniu mais de 235 mulheres petistas, cumpriu a função de fazer uma análise deste período e apontar os próximos passos para que a paridade dentro do PT não seja apenas numérico.

“Esse 50% de mulheres nas direções do PT, hoje é um número. Mas não pode ser apenas um número. Precisa ser efetivamente um espaço dentro do PT. A paridade precisa ser efetivo, protagonista. E ainda não é”, ponderou Laisy.

Para ela, o evento promovido pela Secretaria de Mulheres do PT serviu para que as petistas tomem consciência disso e, desta forma, tomem o poder interno, apropriando-se da direção do partido.

Laisy ainda fez uma ponderação sobre a importância desses debates para uma maior inclusão das mulheres negras, que sofrem uma dupla opressão, de raça e de gênero.

“Tem que estar na raiz dos documentos do PT o combate ao racismo, à opressão, contra o machismo, contra a misoginia”, enfatizou.

Presente ao encontro, a líder do PT no Senado, Gleisi Hoffmann (PT-PR), ressaltou que o PT, mesmo com todas as contradições, é “de longe o partido que mais trata e trabalha questões de gênero no Brasil”.

“É o partido que teve compromisso com as mulheres muito antes dos outros. Mesmo que muitos companheiros nossos ainda reflitam as contradições da sociedade, até porque a política ainda é muito masculina, o PT é referência no debate de gênero e nós temos política de gênero, queremos empoderar as mulheres. E somos a bancada que tem mais mulheres no parlamento”, destacou.

Ao falar do 6º Congresso Nacional do PT, Gleisi lembrou que o Congresso tem nome feminino, em homenagem a Dona Marisa Letícia, falecida em 3 de fevereiro deste ano.

Limites da Paridade

As mulheres presentes ao seminário fizeram críticas às posturas que reproduzem o machismo dentro do próprio partido.

A subsecretária de Políticas de Igualdade Racial do governo petista de Minas Gerais, Cleide Hilda, foi uma das portavozes das críticas.

“Não adianta fazer discurso e na prática não fazer o que se defende no discurso. Por exemplo, 50% de cotas para as mulheres é discurso, mas não é prática. Porque para ser de fato prática, teria que garantir com que essas mulheres de fato conseguissem ocupar esses 50% dentro do Partido dos Trabalhadores, em cargos mesmo de direção”.

Cleide Hilda destacou, ainda, que o mesmo acontece na cota para negros, que acabam ficando com cargos de baixa representação política.

Para ela, o 6º Congresso Nacional do PT possibilita o momento da autocrítica e da avaliação da forma como o partido tem lidado com as diferenças e diversidades que existem dentro do Partido dos Trabalhadores.

“O PT tem que ser melhor que os outros partidos, porque ele se propôs a ser melhor. Então ele precisa reconhecer esse debate, apoiar esse debate, garantir que esse 50% de mulheres de fato disputem o espaço”, concluiu.

Mulheres fizeram críticas às posturas que reproduzem o machismo dentro do próprio partido

Mulher e participação na política

A primeira mesa de debates abordou a visão sociológica dos desafios e das perspectivas da participação feminina na política.

A professora e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), Flávia Biroli, lembrou que as mulheres atuam politicamente todo o tempo, mas a representação feminina os espaços de poder continua baixa.

“Mais de 20 anos que existe a cota de mulheres nas listas partidárias, mas ainda temos uma média de 10% de mulheres nos parlamentos. Tivemos um resultado muito fraco nas eleições municipais, apenas 11,5% de mulheres prefeitas em 2016. E apenas uma governadora”, enumerou.

Biroli também destacou o caráter misógino do golpe que derrubou a presidenta eleita Dilma Rousseff.

A pesquisadora da UnB ressalta, entretanto, que mesmo os partidos de esquerda tendo mais permeabilidade à participação política das mulheres, nem sempre a atuação feminina é progressista, lembrando os discursos das deputadas e senadoras que votaram pelo impeachment de Dilma.

E acrescentou da “absoluta urgência” de se colocar mulheres identificadas com agenda progressista e com os partidos de esquerda para fazer frente aos retrocessos no âmbito dos direitos das mulheres.

“Dos anos 70 para cá, a atuação das mulheres na política está cada vez mais qualificada e organizada. E, com a chegada do PT ao governo federal, essa atuação passou a ser mais efetiva e com mais resultados”, destacou Flávia Biroli.

A professora e pesquisadora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Clara Araújo, também falou da participação das mulheres parlamentares no impeachment machista contra Dilma.

“Na Câmara, 47 mulheres votaram no processo do impeachment, sendo que 26 votaram a favor. Ou seja, 55% das mulheres votaram pela abertura do processo contra Dilma”, apontou.

Por isso, para ela, a chave do debate sobre participação das mulheres nos espaços de poder é de como articular o debate do feminismo com a democracia.

Ao final do seminário, mulheres representantes das forças internas do Partido dos Trabalhadores fizeram a análise dos avanços e próximos desafios da paridade no PT.

Por Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias

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