Para Miguel Nicolelis, cortes na Ciência vão comprometer futuro

Cientista afirma que Brasil corre o risco de se tornar vassalo de outras nações, pois a ciência “é uma questão de soberania nacional”

Pedro Sibahi/Agência PT

Miguel Nicolélis: “Essa é uma resolução histórica. Eu não me lembro, na história do Brasil recente, de uma decisão tão audaciosa, dos governadores, do consórcio“

Para o cientista Miguel Nicolelis, “a maior violência que ocorreu no Brasil nos últimos anos foi a negação do resultado de eleições democráticas”. “Hoje o risco de colapso das universidades é real”, afirmou em uma aula magna para os estudantes de pós-graduação da Universidade de São Paulo (USP) na quinta-feira (6).

Considerado um dos 20 maiores cientistas do mundo pela revista “Scientific American”, Nicolelis foi um dos principais responsáveis pelo projeto Andar de Novo, que envolveu 156 pesquisadores de 25 países e permitiu a um paciente paraplégico dar o chute inicial na Copa do Mundo de 2014.

O cientista discorreu sobre os desafios que o Brasil e os pesquisadores do país enfrentam em um momento no qual o governo golpista de Temer corta 44% das verbas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O fato chegou a estampar matéria da revista Nature, uma das mais renomadas do mundo na área, segundo a qual “pesquisadores temem que o último corte dramático irá destruir a ciência do país”.

“No século 21 a questão da ciência é uma questão de soberania nacional. É isso que está em jogo”, afirmou Nicolelis. Para ele, “um país como o nosso tem que decidir se quer ser um país de verdade ou vassalo de outras nações”. O cientista afirmou que não queria transmitir pessimismo, mas lamentou que tenha ocorrido “uma interrupção do curso natural da democracia”.

Nicolelis explicou que uma das maneiras de descrever a Ciências é relacionando a capacidade de inovação com a renda per capita bruta. “Países que investiram mais em Ciência e Tecnologia geraram mais riqueza”, acrescentou ele, ressaltando que entre os países que mais investiram estão os Estados Unidos, que investe cerca de 5% do PIB em Ciência e Tecnologia desde a 2a Guerra Mundial.

“Nações ganharam posições no ranking da Ciência por políticas públicas muito claras”, disse o renomado cientista, acrescentando que o país “está aquém do potencial intelectual da nossa sociedade. Ao investir em riqueza você gera riqueza para a nação”.

Nicolelis lembrou que “o Brasil está entre os dez maiores consumidores de tecnologia. Porém, não fazemos parte do rol de nações produtoras de tecnologia de ponta”. Para ele, isso não significa que o país não tenha bons cientistas. “A nação é responsável por 22% de todos os papers [artigos acadêmicos] sobre moléstias infecciosas no mundo”, afirma. Porém, ele ressalta que “perdemos o trem” quando foi a hora de investi em microprocessadores e, agora, com a nanotecnologia. “Tínhamos capacidade humana, mas perdemos o trem”, avaliou.

O cientista falou do exemplo da Finlândia, que reformulou seu sistema educacional há cerca de 40 anos, valorizando os alunos e os professores, para se tornar um dos maiores polos científicos do mundo. “Lá o professor é considerado arauto da cultura finlandesa.”

Ele também afirmou que em um passado recente, “o Brasil teve o maior aumento da história em investimento na área científica”. Nos governos Lula e Dilma, o valor passou de R$ 2 bilhões em 2002 para R$ 12 bilhões em 2012. “O Brasil já foi um player lá fora”, disse o cientista.

Nicolelis comentou com orgulho que “viajava e encontrava alunos do Ciência Sem Fronteiras por todo o mundo”. O programa teve as bolsas de graduação cortadas pelo governo golpista de Temer. Com relação aos cortes no Ministério da Ciência e Tecnologia, ele afirmou que foi uma “decisão sobra a qual ninguém opinou, nem o povo, nem os cientistas”, enfatizando o caráter ilegítimo do governo Temer.

Nicolelis e Lula no projeto Andar de Novo

O cientista também contou de suas atividades na implementação do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, cujo objetivo é fomentar a pesquisa científica, acompanhando futuros pesquisadores desde o pré-natal com as mães, até a pós-graduação; além de falar da Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa, que ele criou em 2004 para promover pesquisa e educação científica.

A presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Tamara Naiz, esteve presente e afirmou que no Brasil “vivemos um ataque à democracia que deve ser combatido. Um ataque à democracia e às instituições”. Ela citou ataques que a Ciência vem sofrendo no país, como o desligamento do supercomputador Santos Dumont, o mais potente da América Latina, o corte de bolsas e o contingenciamento de verbas. “Como fazer Ciência se o Estado forte está sendo atacado?”, questionou ela.

Por Pedro Sibahi, da Agência PT de notícias

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