Pazuello: Bolsonaro decidiu não intervir na crise de oxigênio em Manaus

General confirmou à CPI que Bolsonaro estava na reunião em que o governo negou pedido de intervenção federal do senador Eduardo Braga para evitar mais mortes no Amazonas, em janeiro

Foto: Agência Senado

Os depoimentos de Eduardo Pazuello à CPI serão encaminhados ao Ministério Público, informou o senador Rogério Carvalho (PT-SE). "Mentir na CPI é um deboche com as famílias de 441 mil mortos”, disse o senador

A CPI da Covid voltou a tomar o depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello nesta quinta-feira (20), no Senado. Pazuello voltou a mentir e cair em contradição sobre as ações desastrosas do Ministério da Saúde que atrasaram a chegada de vacinas, atrapalharam o combate à pandemia e amplificaram o número de mortes de maneira cruelmente dolorosa, caso da crise de oxigênio em Manaus que levou pacientes à morte por asfixia, no início do ano.

Apesar de manter a estratégia diversionista e tentar proteger Jair Bolsonaro, Pazuello confirmou que o presidente estava na reunião em que o governo decidiu negar pedido do senador Eduardo Braga (MDB-AM) para uma intervenção federal no Amazonas. O pedido do senador foi feito em 15 de janeiro, em meio ao colapso do sistema hospitalar por falta de medicamentos e oxigênio.

“Essa decisão não era minha. [O pedido] foi levado à uma reunião de ministros e foi decidido que não haveria intervenção”, disse Pazuello. “O presidente da República estava nesta reunião. Essa decisão foi tomada nessa reunião”, disse. Diante da confirmação, o senador Randolfe Rodrigues (Rede- RO) pediu que o relator Renan Calheiros (MDB-AL) incluísse a confissão no relatório da CPI.

Sabotagem à Pfizer

Pazuello se atrapalhou novamente para explicar a demora da chegada da vacina da Pfizer. Pressionado, ele admitiu que o governo excluiu um dispositivo da Medida Provisória 1.026/2021 que garantiria segurança jurídica para a compra do imunizante. O artigo estabelecia que a União a assumiria a responsabilidade por eventuais efeitos colaterais advindos da vacina.

O ex-ministro atribuiu a retirada a uma falta de consenso no corpo jurídico dos ministérios que participavam da elaboração da MP, em dezembro. Mas não mencionou que a minuta não continha a assinatura do presidente, o responsável pela retirada. “A diferença é que na minuta não tem a assinatura do presidente Jair Bolsonaro. Na MP publicada, está a assinatura do presidente”, denunciou Randolfe Rodrigues, que acusou Pazuello novamente de tentar proteger Bolsonaro.

Em sua intervenção, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) pediu que os depoimentos de Pazuello sejam encaminhados ao Ministério Público, como foi no caso do ex-chefe da Secom, Fábio Wajngarten. Para Carvalho, “mentir na CPI é um deboche com as famílias de 441 mil mortos’.

Interferências de Bolsonaro

Carvalho confrontou as afirmações de Pazuello de que não recebia ordens diretas e interferências de Bolsonaro sobre como agir na pandemia. Indagado sobre a interferência de Bolsonaro nas posições de Pazuello, o general foi mais uma vez evasivo.

“O senhor será responsabilizado pelas ações deliberadas deste governo Bolsonaro em busca da imunidade de rebanho, por contaminação, natural, por recomendas medicamentos sem eficácia comprovada, por trabalhar contra a vacinação, o distanciamento social, o uso de máscaras e demais medidas preventivas”, cobrou o senador.

TrateCov

O ex-ministro também foi cobrado a explicar a utilização do aplicativo Tratecov, lançado por iniciativa da secretária de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde Mayra Pinheiro, a “capitã cloroquina”. Pazuello mentiu e afirmou que o aplicativo, que recomendava uso de cloroquina até para gestantes e crianças, nunca foi lançado, apesar de aparecer no site do Ministério da Saúde no dia 13 de janeiro. A plataforma só saiu do site da pasta oito dias depois.

Pazuello disse o aplicativo que era apenas um “protótipo”, mas a imprensa já destacava a existência do aplicativo no dia 14 de janeiro. Rogério Carvalho chegou a mostrar um vídeo de uma reportagem da TV aberta detalhando o uso e as funções da ferramenta, em janeiro.

Pazuello afirmou que o aplicativo foi suspenso depois que foi hackeado ou, nas palavras do general, “copiado” . O presidente da CPI, Omar Aziz, chegou a dizer que o governo usou a população de Manaus como cobaia para um experimento com cloroquina.

Da Redação

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