Pomar: Sem organização da classe trabalhadora não há democracia

Professor da UFABC esteve no seminário da CUT que comparou os golpes de 1964 e 2016, que também contou com o presidente da entidade, Vagner Freitas

Valter Pomar participa do seminário “Golpes na América Latina - Ontem e Hoje (Brasil: 1964 e 2016)”, da CUT

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) promoveu, na manhã desta quinta-feira (30), em Brasília (DF), o seminário “Golpes na América Latina – Ontem e Hoje (Brasil: 1964 e 2016)”.

A data foi escolhida por remeter aos dois últimos golpes de Estado sofridos no Brasil, ambos no mês de abril: o civil-militar iniciado na madrugada do dia 31 para 1º de maio de 1964, que instituiu a Ditadura Militar por 20 anos no País; e o golpe parlamentar mascarado de impeachment de 17 de abril de 2016, que destituiu a presidenta eleita Dilma Rousseff.

Na fala de abertura do evento, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, destacou as semelhanças entre o golpe de 1964 e o de 2016, pois ambos utilizaram o argumento do combate à corrupção e foram dados em governos populares que faziam avançar os ganhos da classe trabalhadora.

“Eu nunca imaginei que a gente poderia ter um golpe pior do que o de 64, mas estamos tendo. Em 64, a imprensa apoiou o golpe. Agora, a imprensa constrói o golpe, ela faz o golpe, ela está no golpe. Ela não reproduz notícia, ela cria notícia, ela inventa mentiras e transforma mentiras em verdades”, enfatizou o presidente da central.

Compondo a mesa de debates, o petista e professor da Universidade Federal do ABC, Valter Pomar, afirmou que, para as elites, a democracia tem que ser “restrita, oligárquica e golpista, para poder sustentar uma ordem social baseada em um altíssimo nível de desigualdade e em uma brutal dependência”.

“Isso a gente precisa repetir por gerações: a classe dominante não tem compromisso algum com a democracia”, completou.

Por isso, para que se tenha uma “democracia que valha o nome”, Pomar destacou que é preciso medidas como a reconstrução da capacidade produtiva nacional, a reforma do Estado e a reforma política, a democratização da comunicação, mudança nos padrões de educação e cultura do País, a mudança nas políticas de segurança e justiça, e a necessidade de auto-organização da classe trabalhadora.

“Não tem democracia no País se não tiver auto-organização da classe trabalhadora. Se tem alguma chance de ter democracia no Brasil e no mundo, isso passa pela luta da classe trabalhadora, no sentido de garantir igualdade social, a democracia e de enfrentar o capitalismo”, garantiu.

Para o ex-presidente da CUT e atual presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Felício, não se pode esquecer que há, sim, luta de classes no País, de duas classes disputando a hegemonia social, econômica, política. E os dois golpes foram expressão dessa luta de classes.

Ex-presidente da CUT e atual presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Felício, durante seminário sobre os Golpes de 64 e 2016

“Os atores sociais que deram o golpe em 64 são os mesmos de hoje”, apontou. O golpe de 2016, segundo João Felício, também foi para evitar a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República.

“Parte do projeto dos golpistas é evitar que o Lula seja reeleito, eles querem prender o Lula, mas acho que não vão conseguir. Eu acho que em 2018 conseguimos voltar ao poder”, concluiu.

Governo golpista

O diplomata Samuel Pinheiro Guimarães, também presente ao seminário, destacou as características deste governo usurpador de Michel Temer, que chegou ao poder por meio do golpe de 2016.

“Estamos diante de um governo antinacional, antipopular, que é contra os trabalhadores, profundamente antidemocrático e que dá outro golpe de Estado ao aprovar a emenda constitucional 95, do teto de gastos”, declarou.

“Quando um presidente golpista fala que quem é contra a reforma da Previdência é contra o Brasil, está repedindo o discurso do ‘Brasil, ame-o ou deixe-o’, empregado na ditadura militar”, comparou a deputada federal Erika Kokay (PT-DF).

A petista lembrou que o Partido dos Trabalhadores é uma das forças que pode reunir a resistência ao golpe em curso, e por isso é tão perseguido pelas elites, destacando a tentativa de tornar o ex-presidente Lula inelegível.

“Um partido que nasce do ventre da classe trabalhadora, que nasce das experiências de construção de uma sociedade livre e democrática, é um partido que provoca medo. E como eles têm medo de Luiz Inácio Lula da Silva”.

Resistência

O seminário também serviu para discutir a resistência ao atual golpe e sua consequente retirada de direitos.

Todos os debatedores foram unânimes em afirmar que a organização da classe trabalhadora é fundamental e indispensável para essa resistência.

Para Valter Pomar, faltou essa resistência da esquerda brasileira logo após o golpe de 1964. Para ele, é preciso aprender com esse erro e não perder tempo agora na luta contra o golpe de 2016.

“Não tem democracia se não tiver auto-organização da classe trabalhadora”, diz Pomar

“Foi um erro brutal em 64 não ter havido resistência, não ter havido greve geral. Uma diferença importante com o que está acontecendo agora, é que a esquerda brasileira hoje está exibindo uma capacidade de resistência a este golpe maior do que exibiu naquela época. E essa resistência tem que ainda maior, porque se nós não lutarmos, a escalada golpista continuará, e as liberdades de democráticas que nós ainda temos serão afetadas”, conclamou.

Na mesma linha, o presidente da CUT lembrou que o golpe de 2016 só se concretiza de fato com a aprovação das “famigeradas reformas contra o povo brasileiro”, e lembrou que nesta sexta-feira (31) será mais uma oportunidade do povo mostrar toda a sua força e resistência.

“O que vai fazer esse golpe não dar certo é a luta popular. Nós temos condições, com lutas e greves, de barrar esse golpe que está em curso no Brasil. No dia 15 de março colocamos mais de 1,5 milhão de pessoas nas ruas e amanhã faremos manifestações ainda maiores e no dia 28 de abril teremos a maior greve geral da nossa história”, afirmou.

Em sua fala, a deputada Erika Kokay também destacou a capacidade de resistência da população.

“O povo brasileiro elegeu um operário para presidi-lo, uma mulher para presidi-lo. E este mesmo povo brasileiro vai fazer a mais profunda reação à toda retirada de direitos”.

Deputada Erika Kokay (PT-DF) fala da capacidade de resistência do povo brasileiro

O seminário “Golpes na América Latina – Ontem e Hoje (Brasil: 1964 e 2016)” foi uma realização da CUT, em parceria com a Solidarity Center da AFL-CIO e com apoio do gabinete da deputada federal Erika Kokay (PT-DF).

Por Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias

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