Precisamos cada vez mais de negras na política, diz Djamila

Em cerimônia de posse, a secretária-adjunta de Direitos Humanos de São Paulo reforçou a importância de lutar pela representatividade na política

“Esta é uma das poucas vezes na minha vida em que estou num auditório e a maiora das pessoas é negra. Eu me sinto muito feliz porque faço parte da trajetória de muitos que estão aqui”, afirmou a jornalista Gabriela Vallim na noite desta quarta-feira (29), ao tomar posse como coordenadora de Políticas para Juventude da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo.

No mesmo evento, que lotou a Galeria Olido, no centro da cidade, tomou posse a secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania, Djamila Ribeiro

Estavam presentes o prefeito Fernando Haddad (PT), a vice-prefeita e secretária da Educação, Nádia Campeão; o secretário de Direitos Humanos e Cidadania, Felipe de Paula; o secretário de Promoção da Igualdade Racial, Maurício Pestana; a secretária de Política para Mulheres da Cidade de São Paulo, Denise Motta Dau; e o ex-senador e ex-secretário de Direitos Humanos e Cidadania Eduardo Suplicy. Após a posse, aconteceu o debate “Mulheres Negras nos Espaços de Poder”.

Suplicy fez a abertura do evento e Gabriela Vallim foi a primeira das empossadas a falar. Ressaltou a importância de pensar as políticas públicas tendo em vista os problemas enfrentados pela juventude negra, principalmente a violência.

“Lutamos muito para que os 400 anos de escravidão a que a população negra foi subordinada no Brasil pudessem ser reparados (…) Sinto um peso de responsabilidade muito grande, mas me sinto muito fortalecida”. Gabriela é militante do movimento negro e já realizou campanhas contra a redução da maioridade penal.

De acordo com um estudo apresentado no Seminário Segurança Pública e Direitos Humanos, realizado pela SMDHC, 64% dos mortos pela polícia em São Paulo são negros e metade dessas vítimas se concentra em 14 distritos pobres da cidade de São Paulo.

A pesquisa “Juventude e Violência no Município de São Paulo” revela que, em 2014, em cada quatro pessoas mortas pela polícia, uma era adolescente (13 a 17 anos). O homicídio de jovens (15 a 29 anos) representa 85% do total de homicídios cometidos pela corporação, no mesmo ano.

O estudo foi realizado pela pesquisadora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Giane Silvestre, com dados municipais das secretarias de Saúde, Serviços e Assistência e Desenvolvimento Social.

Gabriela Vallim afirmou estar feliz em fazer parte de uma gestão que pensa em fazer uma política representativa, que inclua com mulheres, negros, gays, lésbicas e travestis. “São Paulo não vai retroceder porque a gente não vai deixar”, reforçou.

Em sua intervenção, Djamila lembrou que o grupo que mais sofre violações de direitos humanos é a juventude negra, e pediu que os movimentos sociais não se esqueçam de sua relevância para a elaboração e implementação das políticas públicas. “Somos poucas, e precisamos cada vez mais de mulheres negras nos espaços de decisão”.

Djamila é  mestra em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Na Prefeitura de São Paulo, dos 131.287 servidores municipais ativos, 95.454 são do gênero feminino. Isto significa que, a cada dez funcionários, sete são mulheres, 72,71%. Entre cargos de chefia, direção e assessoramento superior, as mulheres ocupam 58,33% (ou 3.785) dos 6.489 cargos do tipo.

Dentro dos cargos políticos, como secretários, secretários-adjuntos, subprefeitos e chefes de gabinete, as mulheres ocupam 23,61% das funções, o equivalente a 34 dos 144 cargos.

Gabriela assume com a missão de articular ações para a juventude, detalhadas no Plano Juventude Viva da Prefeitura, em especial o Programa Bolsa Trabalho. Outro ponto de seu trabalho será elaborar o Plano Municipal de Juventude.

A posse de Gabriela e Djamila acontece no momento em que Michel Temer (PMDB), vice-presidente que interrompeu o mandato de Dilma Rousseff, está fazendo um governo interino sem mulheres e negros a frente de ministérios.

Também falou o secretário Felipe de Paula. Ele ponderou que sua trajetória profissional foi mais fácil por ele ser homem e por ser branco, e disse estar consciente de que representa uma minoria da população brasileira. “É inaceitável que alguns governos não entendam isto”, disse.

Segundo Haddad, é “uma honra para o governo contar com a presença delas”. “Vai enriquecer ainda mais nossas políticas em direitos humanos. São duas combativas companheiras”, disse o prefeito sobre Gabriela e Djamila.

A cerimônia de posse foi transmitida pelos “Jornalistas Livres” e está disponível no Facebook. Assista:

Da Redação da Agência PT de Notícias

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