Saída de Araújo não basta. Política externa precisa mudar

Líderes petistas no Senado criticam governo por manter o país isolado da comunidade internacional. “Chanceler traiu o país”, diz Paulo Rocha

(Foto: Marcos Corrêa/PR)

“Ernesto Araújo agrediu o Brasil e conspirou contra a vida dos brasileiros”, criticou o líder do PT no Senado, Paulo Rocha.

A queda do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, depois do ataque à senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, neste final de semana, não reduzirá as tensões do governo com o Congresso Nacional. Tampouco vai apaziguar os ânimos. A disposição do PT no Senado é manter o tom crítico e exigir mudanças efetivas na política externa do país.

Para os petistas, o problema no enfrentamento da pandemia permanece o mesmo: o presidente da República. “Se o Brasil não tem vacinas, o responsável é Bolsonaro”, criticou o senador Jean Paul Prates (PT-RN), líder da Minoria no Senado. “Ernesto Araújo agrediu o Brasil e conspirou contra a vida dos brasileiros”, criticou o líder do PT no Senado, Paulo Rocha. “Obedecendo a (Donald Trump), o governo deixou de comprar vacina russa e hostilizou OMS e China. Ele traiu o Brasil”.

Rocha avalia a gestão do embaixador à frente do Itamaraty como desastrosa. “Ele se dedicou a destruir as relações internacionais do Brasil, criando conflitos com a China, parceiro comercial brasileiro, e hostilizou a OMS”, lamentou. Na avaliação do PT no Senado, a crise é mais profunda e mais grave do que a figura de Araújo à frente do Itamaraty.

Na avaliação dos senadores do PT, o problema central hoje é que o Brasil não tem hoje condições políticas para se sentar com outros atores no cenário internacional, tendo em vista os problemas internos e a condução suicida do governo Bolsonaro na gestão da pandemia.

Jean Paul Prates disse que a saída do ministro não resolve os problemas e nem parece alterar os rumos da política externa. “Que Araújo é uma catástrofe diplomática, ninguém nega. Mas ele é o bode que colocaram na sala para que outros não paguem o pecado a ser expiado”, disse. Ele teme que a mudança no Itamaraty seja apenas cosmética e não represente uma guinada.

O líder da Minoria responsabiliza diretamente o presidente da República pelo isolamento que o país vive hoje na comunidade internacional, apontado como uma ameaça global pela imprensa estrangeiro devido ao descontrole da pandemia. “Foi ele (Bolsonaro) quem sabotou a negociação das vacinas com países produtores e laboratórios”, criticou. “Foi o seu negacionismo que ignorou a primeira oferta da Pfizer, que recusou e criticou a compra da Coronavac e fez discursos irresponsáveis contra a vacinação”, lembrou o parlamentar.

O senador diz que a crise não acaba e nem se extingue com a saída de Araújo, porque o governo não parece decidido a mudar sua conduta frente à crise sanitária. Jean Paul avalia que o país seguirá sendo alvo de desconfiança nos fóruns internacionais e, pior, numa condição de pária, sem ter como melhorar sua relação com outras Nações. “O Brasil está refém da pouca disponibilidade de vacinas no mercado mundial e a população está sofrendo com a falta de medicamentos, imunizantes, UTIs e oxigênio”, lamentou.

Ex-ministro da Saúde no governo Lula, o senador Humberto Costa também considera tardia a saída de Araújo. “Poucas pessoas foram tão desqualificadas para comandar o Itamaraty como Ernesto Araújo”, criticou. “A sua passagem por lá foi patética e marcada pela destruição de um legado de décadas construído pela diplomacia brasileira em política externa”.

No final de semana, a revista inglesa The Economist destacou que a má gestão do Covid-19 pelo Brasil ameaça o mundo e responsabilizou diretamente o presidente da República. “Jair Bolsonaro tem muito a responder”, sublinhou a semanal britânica. O jornal americano The New York Times também apontou a gestão de Bolsonaro como um grande problema e noticiou neste final de semana que a disparada da covid no país é “um fracasso” para o Brasil.

O mais influente veículo da imprensa americana lembrou que Bolsonaro chamou a pandemia de “gripezinha”, além de encorajar muitas vezes aglomerações ao longo do último ano, promovendo uma “falsa sensação de segurança” entre seus os apoiadores. O país tem agora mais de 310 mil mortos e, de acordo com fontes ouvidas pela agência de notícias Associated Press, deve romper a barreira das 4 mil mortes diárias nos próximos dias.

Do PT no Senado

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