Sem dizer de onde virá vacina contra a Covid-19, Pazuello vende ilusões

Em sessão no Senado, ministro da Saúde volta a admitir despreparo ao afirmar que o  governo terá “muita dificuldade de coordenar as ações” no país. Plano de vacinar toda a população até o fim do ano não detalha cronograma nem quais imunizantes serão utilizados. Senador Rogério Carvalho (PT-SE) criticou duramente a morosidade da Saúde no processo.”O risco é, ao demorar ao vacinar, já ter uma cepa não suscetível à vacina”, cobrou o senador. País pode demorar até quatro anos para concluir imunizações, apontam especialistas

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Em seu depoimento no Senado, na quinta-feira (11), o ministro da Saúde Eduardo Pazuello deu explicações pouco convincentes sobre as ações da pasta no enfrentamento da Covid-19. Como em outras ocasiões, mais uma vez Pazuello foi vago e não apresentou um calendário detalhado quanto ao cronograma de vacinações previsto para o ano de 2021. Disse, genericamente, que o plano é vacinar 50% da população até o meio do ano e 50% até dezembro.

Na prática, reconheceu a incompetência do governo na aquisição dos imunizantes. “Vindo de fora, temos que entender que números não são suficientes para atender o país”, disse, durante a sessão. “Não que não vamos comprar, vamos comprar todas [as doses], mas os números são 10 milhões, 8 milhões, 3 milhões, 4 milhões, e uma hora vamos ter muita vacina diferente e muita dificuldade de coordenar as ações em nosso país”, admitiu.

Os fatos falam por si: apesar de possuir o Sistema Único de Saúde (SUS), que já garantiu, em um passado não muito distante, uma das mais eficientes coberturas vacinais do mundo, o Brasil hoje engatinha no processo de imunização da população. De acordo com o consórcio de veículos de imprensa, até quinta, o país vacinou 4,5 milhões de brasileiros, o que corresponde a 2,16% da população. 28,2 mil pessoas receberam a segunda dose. O número representa 0,05% dos habitantes. 

Especialistas calculam que, nesse ritmo, o país poderia levar até quatro anos para imunizar toda a população. Até lá, com a pandemia contaminando milhões de pessoas, é impossível prever os efeitos de novas variações que passariam a circular livremente entre a população desprotegida.

300 milhões de vacinas

“Nós precisamos de pelo menos 300 milhões de vacinas no país”, afirmou o senador Rogério Carvalho (PT-SE), durante a audiência com o ministro. O senador cobrou celeridade na aquisição das doses. “O risco é, ao demorar ao vacinar, já ter uma cepa não suscetível à vacina”, ressaltou Carvalho. Ele argumentou que o país possui a infraestrutura para a imunização em massa. “O Brasil tem 37 mil pontos de vacina, e se houvesse vacinas, em 30 dias seríamos capazes de vacinar 70% da população”, disse.

Carvalho fez ainda duras críticas a Jair Bolsonaro pela crise sanitária. “O grande responsável é o presidente da República, que não foi capaz de assumir a ciência, como norte, como guia, para conduzir os rumos de uma nação complexa de 216 milhões”.

Cloroquina

“Na pandemia, o governo gastou pra produzir milhões de comprimidos de cloroquina, deixou faltar cilindros de oxigênio no Amazonas, recusou oferta de 70 milhões de doses da Pfizer e optou pelo menor número de doses na aliança global Covax”, elencou a presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR). “É urgente abrir investigação”, cobrou.

“Este ritmo [de vacinação] é lamentável”, declarou o microbiologista da Universidade de São Paulo (USP) Luiz Gustavo de Almeida, em entrevista ao ‘Estado de S. Paulo’.  O especialista fez o levantamento do tempo de vacinação no país baseando-se no número total de pessoas que precisam ser vacinadas, cerca de 160 milhões de brasileiros.

“Já em plena pandemia de covid, conseguimos vacinar 54 milhões de pessoas contra a gripe em cem dias, sem grandes esforços. No caso da covid, deveríamos conseguir no mínimo o mesmo número; idealmente mais, se abríssemos postos de vacinação em estádios e escolas”, afirmou Almeida.

EUA derrubam casos com vacinação

Além da falta de planejamento, o país ainda precisa lidar com o acesso desigual entre países ricos, em desenvolvimento e os mais pobres. Os EUA e o Reino Unido, por exemplo, não mediram esforços em garantir ampla cobertura vacinal mesmo, no caso, dos EUA, com enormes gargalos de infraestrutura e logística. Ainda assim, os EUA estão conseguindo derrubar o número de casos da doença no país. Há um mês, foram registradas 274 mil novas infecções. Nesta semana, o número caiu para 82 mil novos casos.

Especialistas apontam a vacinação iniciada em dezembro como a principal razão por trás da queda. Os EUA aplicaram 13,64 doses para cada 100 pessoas. O Brasil, em contrapartida, apenas 1,95 para cada 100 habitantes, segundo a plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford. Já o país com o maior índice de vacinação mundial é Israel, com uma taxa de 69,46 para cada 100 habitantes.

De acordo com um levantamento da Economist Intelligence Unit (EIU) do semanário ‘The Economist’, o Brasil está entre os países com projeção de cobertura de vacinação contra a Covid-19 para meados de 2022. A previsão aponta, portanto, pelo menos seis meses de atraso em relação ao plano de Pazuello.

Clamor popular por vacina

A perspectiva para uma aceleração das imunizações continua incerta. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), informou nesta semana que a liberação da vacina da Pfizer e da Biontech deve ter um prazo inferior a dois meses. Mas não deu maiores detalhes. Enquanto isso, o imunizante russo Sputnik V segue sem previsão para o início do uso emergencial no Brasil. A chamada vacina de Oxford também pode demorar até 60 dias para ganhar registro definitivo.

“Se não houver um clamor popular, uma grande pressão para a compra de vacinas, vão continuar morrendo mais de mil pessoas por dia”, reagiu o epidemiologista Fernando Barros, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em declaração ao ‘Estadão’.

“Com a questão das variantes do vírus, a situação pode se agravar e será ainda mais difícil abafar a infecção. Estou vendo muito pouco movimento para a gravidade da situação. O único jeito de sairmos dessa situação dramática é comprar mais vacina. Precisamos de uma quantidade suficiente para deslanchar o programa de imunização”, definiu Barros.

Da Redação, com informações de ‘Estadão’, ‘BBC’ e ‘UOL’

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