Sem saída, Alckmin vai abastecer SP com volume morto do Cantareira

Crise no abastecimento d’água expõe graves fragilidades de planejamento e de gestão dos governos tucanos 

No domingo (11), o Sistema Cantareira atingiu um novo recorde negativo: 8,9% de sua capacidade. Apenas nos últimos sete dias, houve uma queda de 1,2 ponto percentual no nível de água, como mostra relatório divulgado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Técnicos da estatal não descartam a hipótese de falta d’água durante a Copa do Mundo, caso as chuvas demorem a chegar.

Diante do cenário alarmante, o governo estadual de São Paulo decidiu antecipar o uso do volume morto para a próxima quinta-feira (15). Contudo, a medida é questionável, preocupa especialistas e a Agência Nacional de Águas (ANA). A crise expôs a grave fragilidade de planejamento dos governos tucanos que se sucederam no comando do estado.

Com a estiagem prolongada, grande parte do volume do Cantareira foi consumida, levando o sistema a uma baixa histórica. Para tentar reduzir  os efeitos sobre o abastecimento de águas, os órgãos gestores tomaram medidas paliativas, que têm sido acompanhadas de perto pelo Ministério Público Estadual.

É o que explica Alessandra Facciolli Martins, promotora do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema). “A prioridade do MP é apurar se as regras da outorga vigente de exploração do Sistema Cantareira estão sendo cumpridas”, observou.

Estão sendo investigados, segundo ela, os procedimentos adotados, no sentido de buscar que sejam atendidos os interesses dos usuários, bem como mantida a qualidade dos ecossistemas envolvidos. “Por ora, já verificamos problemas no planejamento e na gestão desses recursos hídricos”, enfatizo Alessandra.

Para se ter ideia da gravidade da situação, em igual período no ano passado Cantareira registrava 61,5% de sua capacidade. O sistema é responsável pelo abastecimento  de quase 9 milhões de pessoas, na Grande São Paulo.

Segundo a Sabesp, a causa de falta de água são as poucas chuvas. Entretanto, outra perspectiva coloca a responsabilidade na empresa e no governo estadual, que deixaram de fazer investimentos necessários, expondo o abastecimento como refém de fatores climáticos ao longo das gestões Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin.

Principal fonte de abastecimento de toda a região, o sistema precisará de pelo menos cinco anos para recuperar cerca de 70% de sua capacidade de armazenamento de água, segundo estudo técnico do Consórcio Intermunicipal PCJ, das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. 

O presidente da Câmara Municipal, José Américo, do PT, avalia que a dificuldade de abastecimento reflete o descaso do governo e da companhia estaduais responsáveis pelo gerenciamento do sistema de abastecimento.

Um descaso que a seu ver dura mais de uma década de gestões tucanas. “A linha da Sabesp foi se preocupar em acumular recursos, gastos vultosos em publicidade, distribuição de dividendos para acionistas sem se preocupar em fazer investimentos  que assegurassem o abastecimento, independente de fatores climáticos”.

Qualidade – Muito também tem sido questionado sobre a qualidade da água. O superintendente de Regulação da Agência Nacional de Águas (ANA), Rodrigo Flecha, manifestou preocupação com os riscos ambientais de se usar o volume morto, parte do reservatório que não é alcançada pelas bombas.

Trata-se, segundo afirmou Flecha em audiência pública na Câmara dos Deputados, de algo desconhecido, porque nunca se chegou a essa situação. “Não se sabe o que está depositado ali (no fundo da reserva). Tem que ser avaliado porque é uma área com sedimentação, via metal pesado, que vai se depositando ao longo dos anos”, afirmou.

“Não se poderá bombear a água a partir de um determinado ponto que possa revolver o sedimento que está ali”, completou.

O professor do departamento de engenharia hidráulica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Luiz Rafael Palmier, também alerta sobre o uso do volume morto. “Teoricamente nem se deve usar essa água. A função desse recurso é acumular os sedimentos carreados no curso d’água”, disse.

” Se por um acaso, você já está tirando água do volume morto, eventualmente você pode ter ali um problema com a qualidade da água. Em reservatórios com alto acúmulo de sedimentos, a água pode estar assoreada”, conclui.

Por Camila Denes, da Agência PT de Notícias

 

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