Temer contraria técnicos e aprova pulverização aérea de inseticida

Cedendo a pressões de ruralistas, o presidente golpista autoriza técnica sem eficácia comprovada que pode prejudicar saúde da população

O presidente golpista Michel Temer (PMDB) sancionou no último dia 27 de junho uma lei que permitirá a pulverização de inseticidas por aviões para combater o mosquito da dengue. A técnica de combate não tem eficácia científica comprovada e pode intoxicar a população com o produto, já que o veneno se espalha por quilômetros de distância, segundo a pesquisadora Karen Friederich, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz.

Associações como Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Fiocruz e o próprio Ministério da Saúde, antes do golpe, se posicionaram contra o projeto de lei aprovado pelo golpista.

Para Friederich, não há nenhuma justificativa científica para a utilização do método de combate. Segundo ela, a eficácia do inseticida é muito baixa, já que tem que alcançar o mosquito em voo para matá-lo. Além disso, o ciclo de vida do Aedes Aegypti é curto, de apenas uma semana. Logo, a aplicação teria de ser feita semanalmente. Outro motivo é que o mosquito desenvolve resistência ao veneno ao longo do tempo.

Dentre as recomendações para o combate à dengue historicamente utilizadas pelo Ministério da Saúde , a pulverização de inseticidas está entre as últimas medidas recomendadas. Antes, está a melhoria do saneamento básico e o controle de criadouros da larva – locais com água parada, por exemplo.

“A pulverização de inseticidas pode causar várias doenças, como alergias, alterações respiratórias e até câncer”, aponta a pesquisadora.

Por ser lançado a uma altura de 40 metros, o veneno se espalha por quilômetros, podendo contaminar a água, o meio ambiente e prejudicando até o comércio de alimentos de rua, como feiras.

A explicação de porque, mesmo com mais “contras” do que “prós”, a lei foi aprovada, pode ser mais política do que científica. A proposta partiu do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) e foi acolhida pelo deputado federal Valdir Colatto (PMDB-SC). A venda de agrotóxicos caiu 20% no último ano. 

Para a Abrasco, a técnica tem elevado potencial de causar graves doenças nos seres humanos, extinção de espécies e perdas econômicas.

“A pulverização aérea para controle de vetores apresenta potencial ainda maior de causar danos sobre a saúde, o ambiente e a economia local e nacional. Isso porque o volume será pulverizado diretamente sobre regiões habitadas, atingindo residências, escolas, creches, hospitais, clubes de esporte, feiras, comércio de rua e ambientes naturais, meios aquáticos como lagos e lagoas, além de centrais de fornecimento de água para consumo humano”, afirma a nota divulgada pela entidade.

Por Clara Roman, da Agência PT de Notícias

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