Violência da PM no Recife foi orquestrada, denuncia vereadora do PT

A vereadora Liana Cirne fez hoje duro discurso na Câmara Municipal cobrando investigação, apuração e punição de responsáveis por parte do governador Paulo Câmara (PSB)

Malu Aquino

Vereadora Liana Cirne, do PT do Recife

A vereadora do PT em Recife Liana Cirne Lins denunciou nesta segunda-feira, 31, que a repressão e ataques de policiais militares a manifestantes que participavam de atos pacíficos pelo “Fora Bolsonaro”, em Pernambuco, no último sábado, 29, foi um movimento de inteligência orquestrado.

Em duro discurso durante a sessão da Câmara Municipal de Recife, nesta manhã, Liana cobrou atitude por parte do governador do Estado, Paulo Câmara (PSB). A petista afirmou que só sairia da sede do governo depois que fosse atendida por ele. Nem precisou esperar. O pessebista ligou e disse que iria atendê-la às 14h. Liana foi covardemente agredida com jatos de spray por policiais.

Professora de direito há 25 anos, a vereadora, que foi a mais votada do PT na cidade, afirma que não “podemos generalizar” a violência de maus policiais. “Já dei aula para centenas de policiais. E não são todos assim, violentos”, disse. Liana recebeu a solidariedade inúmeros alunos, mas da PM, nada. Ao se dirigir à delegacia de polícia, ela encontrou a viatura e os PMs que a agrediram. De cabeça baixa, desta vez os policiais que a agrediram não revidaram.

Liana contou que estava no plantão jurídico quando o telefone começou a tocar com denúncias de agressões de policiais. “Até meio dia (de sábado, 29), o ato transcorria em paz. Foi quando começaram os telefonemas com relatos de violência em vários pontos”, disse.

“Houve um planejamento de inteligência para perseguir, acuar. Fizeram (a PM) armadilha em diversos pontos para encurralar e agredir os manifestantes. Por isso, é importante descobrir de quem veio a ordem. Os policiais que me atacaram não o fizeram de forma diferente do que estava ocorrendo com outros manifestantes”, cobrou.

A vereadora petista diz que não basta o governador afastar o comandante e policiais envolvidos nas agressões durante os atos democráticos. “É preciso ir fundo e descobrir de quem partiu a ordem para sufocar o movimento contra Bolsonaro.”

O ato estava sendo pacífico, com cautela e segurança. “O povo do Recife está de parabéns. Era um ato pela vida e não contra a vida. O ato era contra Bolsonaro porque ele é uma ameaça as nossas vidas.”

“Não podemos nos calar”

Após os ataques, a vereadora Liana deve mudar sua rotina e adotar medidas de segurança. “Não podemos mais nos calar. É muito forte nós sermos mulheres e sermos constantemente diminuídas ‘por esses machos’. Eu fui achincalhada. Eu sou a primeira a chegar à Câmara Municipal e sou a última a sair. Agora vou precisar mudar a minha rotina e ter mais segurança.”

A vereadora afirma que as agressões foram arbitrárias e não restrita apenas a manifestantes. “Apesar de terem sido coordenadas, elas foram contra todo mundo. Como o caso do Daniel, pai de uma criança autista de 3 anos de idade. É muito simbólico que ele foi atingido quando estava se dirigindo ao mercado para comprar carne”, disse.

“A polícia veio em perseguição aos manifestantes. Quando eu impedi o avanço das viaturas, eles desceram e começaram a atirar para atingir balas de borracha contra as pessoas, não atiravam para o alto. Pessoas que estavam procurando refúgio passaram a ser alvejadas pelos PMs, por isso, eu agi até da maneira impulsiva. É o dever de qualquer cidadão impedir esse tipo de ato”, relatou.

“Essa violência comigo aconteceu na Ponte Princesa Isabel. Eu pedia a identificação do policial e disse que eu abriria procedimento disciplinar contra ele. Fui até o carro quando, a um palmo do meu rosto, o PM disparou o spray de pimenta”, relata a vereadora.

As comissões de Direitos Humanos da Câmara e do Senado presididas, respectivamente, pelo deputado federal Carlos Veras (PT) e pelo senador Humberto Costa (PT), ambos de Pernambuco, cobram abertura de apuração de conduta da Polícia Militar.

Liana pede que “não se deixe policiais órfãos para serem acolhidos pelo bolsonarismo” e reafirma que atos de violência por autoridades não podem cair na rotina. “Não é o normal da polícia e não devemos tratar como se fosse. Isso desonra os bons policiais.”

Da Redação

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